Lá na úmida senzala,Sentado na estreita sala,Junto ao braseiro, no chão,Entoa o escravo o seu canto,E ao cantar correm-lhe em prantoSaudades do seu torrão ...De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,Que tem no colo a embalar...E à meia voz lá respondeAo canto, e o filhinho esconde,Talvez pra não o escutar!"Minha terra é lá bem longe,Das bandas de onde o sol vem;Esta terra é mais bonita,Mas à outra eu quero bem!"
O sol faz lá tudo em fogo,Faz em brasa toda a areia;Ninguém sabe como é beloVer de tarde a papa-ceia!"Aquelas terras tão grandes,Tão compridas como o mar,Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ..."Lá todos vivem felizes,Todos dançam no terreiro;A gente lá não se vendeComo aqui, só por dinheiro".O escravo calou a fala,Porque na úmida salaO fogo estava a apagar;E a escrava acabou seu canto,Pra não acordar com o pranto O seu filhinho a sonhar!
O escravo então foi deitar-se,Pois tinha de levantar-se Bem antes do sol nascer,E se tardasse, coitado,Teria de ser surrado,Pois bastava escravo ser.E a cativa desgraçadaDeita seu filho, calada,E põe-se triste a beijá-lo,Talvez temendo que o donoNão viesse, em meio do sono,De seus braços arrancá-lo!
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