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sexta-feira, março 24, 2023

Pais com Humanidade (on Father´s Day)

Existem os "outros" Pais e depois existe aquele turbilhão de emoções chamado José Policarpo dos Santos Correia.
Desde puto fui amado de forma incondicional pelo meu Pai e pela Minha Mãe.
(factor essencial e que recordo e sinto sempre)
Uma educação liberal, com desde cedo, a ser responsabilizado pelas chaves da casa, pelo executar pequenas tarefas e "recados", entre outras nuances.
A paciência da minha santa Mãe Virginia Correia e a rebeldia do meu Pai moldaram me para sempre no que sou e na forma (corajosa creio) com que vou muitas vezes ao limiar da dor para inverter situações negativas e prosseguir lutando.
O meu Pai, por mais que por vezes possa pensar o contrário, ( os nossos feitios "chocam se" pontualmente) é o meu melhor Amigo ( como ele também gosta de mencionar aos seus amigos) e com ele a navegação á vista nesta vida feita de tantos altos e baixos tem sido bem mais confortante e fácil (como se para nós existisse a palavra "fácil").
Homem de olhar olhos nos olhos, pessoa grande na entrega a quem ama, facilmente perdoa e acolhe, facilmente segue e prossegue com a frase desarmante "deixa lá filho seja tudo por amor de Deus".
Só o Policarpo e a Virgínia sabem que a sorte dá um trabalhão do caraças e que a vida é forjada numa luta muitas vezes desigual.
O meu Pai (impossível de dissociar da minha Mãe) ao seu jeito e maneira ensinou me sempre a não ser um desistente, e em cada vitória sofrida ou amolgadela dolorosa eu lembro me desse legado de Amor e força de ferro moldada na doçura de um Pai com humanidade que ama o seu filho.
Como te disse meu cota havemos de ver o Benfica campeão europeu, o Farense na primeira e o Putin a cair.
Afinal tu é que me ensinaste a não desistir...

Amo te hoje e sempre ( para sempre).

Do teu puto
Paulinho

sexta-feira, fevereiro 24, 2023

Os Filhos do Sangue

 



Lembro me como se fosse ontem que a 24 estava a jantar entre amigos na Ribeira do Porto, saboreando  uma vitela no tacho a derreter languidamente na boca e um vinho do Douro que adornou mais uma noite na Adega de São Nicolau.

Saímos por volta das 23h30 e tive ainda tempo para um cigarro contemplativo numa noite amena, em que a vista, como usual, era (é) um postal nocturno convidativo em que o Rio guarda e delimita as margens entre Porto e Gaia.

Recordo-me da madrugada em que o horror emergiu e ficar horas colado com o meu Pai ao telefone entre o desespero e impotência e a raiva incontida que nos permitiu matar Putin virtualmente (mas de forma convicta) vezes sem conta com requintes de malvadez pérfida e toques extremos de um filme de terror de quinta categoria.

O desespero agudizante dos primeiros dias deu lugar a uma esperança sem aparente lógica racional de que os bravos  Ucranianos iriam prevalecer estóicos contra a máquina de guerra do czar sem trono e saudosista da antiga Rússia imperial em que o direito seria divino de obliterar povos e esmagar a resistência de quem pensa livre e vive em democracia imperfeita mas alicerçada nos valores básicos dos direitos comuns que unem os indivíduos. 

Deixei de ter ilusões e lirismos:  Somos todos filhos do sangue destes tempos angustiantes. No entanto sempre a esperança de que, como em outros tempos do tempo histórico e tangível, a bravura (justiça) e determinação (razão) irá derrotar o cinismo atroz da desinformação e do ódio puro e duro. 

Sempre ouvi dizer que não se combate um bruto ou um rufia com a razão do equilíbrio (infelizmente). Por vezes só a espada pode deter a espada, só o martelo pode responder ao martelo. 


Assim aconteceu (acontece).


Desesperei, revoltei-me, destilei textos de fúria durida , (re)tweets programados em grupo ou na pulsão individual, inundei tudo o que destilasse Putin e sua máquina de terror atroz. Escrevi e (re)escrevi, debati, fui insultado por guardas pretorianas extremistas e mansas no espirito seguidista de matilhas antigas com pastores a soldo  que prestam vassalagem a um decrépito mundo que já não tem lugar nos tempos do presente (aprendi que nas redes sociais existem fanáticos pagos e não pagos...). 

Um ano após o inicio de tempos atípicos, a Ucrânia resiste e insiste no caminho da luta de um direito de nascença de qualquer nação: Ser livre de grilhetas e mordaça. 

Como devem intuir não sou apologista da guerra e da  morte. Nada apagará os mortos, os estropiados e os órfãos de ambos os lados da barricada.  

Nada apagará duas gerações de povos varridas do mapa. 

Nada apagará o ano mais angustiante das nossas vidas. 

Nada apagará o dilúvio obsceno de morte que Putin e seus sequazes lançaram ao mundo (eles e só eles esqueçam lá o resto...) 

No entanto...

Um ano depois a Ucrânia resiste (e insiste). 

Afinal o Czar ia nu... 

Afinal Kiev não caiu em setenta e duas horas... 

Afinal o "presidente-palhaço" não fugiu... 

Contudo... 

Nada está ganho 

Nada está perdido

Tudo está em aberto... 

Ressistiremos à fúria dos brutos, se possível com negociações, se possível com compromisso. 

Mas lutaremos... ao lado dos Ucranianos com a pena e a caneta, com os punhos e com as armas, com a resiliência de quem não se dobra perante o mal. 

(Cada um luta como sabe como pode) 

Ganharemos (muitos)... Perderão (alguns tantos)... 


Nós os filhos do sangue destes tempos malditos. 

Nós os proscritos dum tempo sem lei

Nós os que não calamos (e lutamos) 






quinta-feira, janeiro 26, 2023

Porra Pai... 75?!



Querido Pai 

Porra 75 anos já Pai?!

Não não acredito...o brilho no olhar, a rebeldia a fúria perante as injustiças continua a queimar como se estivesses em início da tua carreira de adulto.

Porra Pai 75 anos a sério?!

Desculpa mas não bate certo...continuas a proteger me, a pegar me pela mão como sempre pegaste, como sempre me protegeste.

Não ... estás a aldrabar me com as tuas histórias de embalar ...75?!

Lembro me bem de correr nas tuas cavalitas para irmos ver o comício da Maria de Lurdes Pintassilgo ...ou como choramos os dois na multidão que recebia o Mário Soares em Faro.

Lembras te Pai?! ( 75... simplesmente não acredito).

Pai...continua a ir a uma igreja vazia rezar pelas Crianças na Ucrânia (vamos ganhar um dia o mal vai perder ... só pode Pai...).

Pai...continua a ser genuíno e com aquele riso de gozo quando me metes a mim e á Mãe com os nervos em franja.

Não...não podes ter 75...

Pai nunca penses que não fizeste o suficiente, que não deste ou apoiaste de forma superlativa...sim Pai eu sou também  um eco do tempo que ainda vive em ti... és "culpado" de eu ser socialista ( não "este" socialismo), benfiquista, farense, és culpado absoluto de nunca me teres cortado as pernas, de naquele final de dia na praia de Faro termos jurado que nada nos desviaria dos nossos objectivos, já na  antecâmara da minha partida para o Porto.

Acho que não te apercebes da importância de simplesmente nos dias de tempestade ter em ti ( e na nossa Virginia Correia ) um abrigo á prova da maldade que inunda o mundo no seu dia a dia vertiginoso.

Alguns conselhos antes de chegares aos 100 anos ( se existe alguém capaz de chegar lá és tu miúdo😁):

Se o Benfica não for campeão o mundo não acaba (é um local pior mas não acaba).

Mesmo que a Mãe não tenha razão ( por norma tem 😁) relativiza e dá a mão a palmatória.

Nunca mas nunca percas a tua fúria e rebeldia ( também minha) pois ensinaste me a nunca me sujeitar ou submeter (luta sempre Pai!!!).

Continua a fazer peixe alimado como só tu sabes e a ser responsável pelo grelhador lá em casa ( de resto deixa os cozinhados para quem sabe).

Não te deixes irritar por quem não merece, ou amargar pelos paradoxos da vida ( como tu e a Mãe me ensinaram " desde que haja saúde tudo se faz").

Ah...já me esquecia... obrigado por me teres ajudado a ter uma voz e identidade própria e acreditares sempre que eu poderia "chegar lá" (continuo a tentar Pai sempre!!!).

José Policarpo dos Santos Correia...Policarpo... Zé...Pai... és um Homem do c...Amo te!!!

Do teu

Paulinho

❤️❤️❤️

quinta-feira, novembro 18, 2021

"Na Corda Bamba"










"De coração cheio"
(Alerta: Texto excessivamente longo e lamechas.)

No dia 6 Novembro virei o cabo da boa esperança para as 47 voltas completas ao sol. Foram centenas de mensagens nas suas variadas formas nas redes sociais, uma enxurrada abençoada de telefonemas e a presença física ( no dia e véspera ) de pessoas que moram no meu coração .
A todos um sentimento de gratidão por me fazerem sentir imensamente amado .

"Na antecâmara das dúvidas"
Entre prendas, lembranças e mimos levantava se agora em mim o medo de uma cirurgia que aguardava ansiosamente há cerca de um ano e meio.
Foi assim um aniversário bom e preenchido mas com o pensamento na antecâmara da tarde de 8 de novembro onde uma ida ao ambulatório do CICAP removeria uma catarata (que se revelaria perigosa, traumática, "madura" e altamente inflamada).
Como muitas coisas na minha vida não poderia ser assim tão simples e evidente. Por aqui não existem facilitismos e até no karma da rotina surge sempre algo inesperado.

"Da escuridão á Luz "
O check in borrado de dúvidas, um atendimento de excelência humana e profissional em todo o serviço de oftalmologia Santo António, levou me a uma estranha calma.
Troca de roupa pela bata da praxe, início das hostilidades com gotas de anestesia rotineiras, um cateter colocado á primeira tentativa nas veias salientes e a espera começa...
(metade do pessoal de enfermagem de oftalmologia tem sotaque quente transmontano e isso foi reconfortante)
Troca para uma maca numa sala mais resguardada , mais anestesia nas veias, tubos no nariz para mais um aroma de relax...mais...mais e mais ..
Voz suave da anestesista ...agulha 6 cm abaixo do olho ..."para você ter poucas ou nenhumas dores...vai demorar mais um pouco ... 15 ou 20 minutos para fazer efeito".
A adrenalina dispara um pouco mas a pressão do medidor arterial e das ventosas para o ritmo cardíaco, dão me sinal mental para não me cagar nas calças e ser forte e determinado...estou ali para não f...a vida a quem vai tentar tratar de mim.
Assim Seja Assim Será
Nova volta rápida para o bloco operatório (isolado)...um formigueiro com sete elementos com simpatia desarmante e a preparar o procedimento . Olho "bom" tapado, o danificado só vê sombras e já altamente sedado. Cabeça ligada entre um molde para mexer o mínimo possível e a dança começa.
Olho sempre húmido com a voz firme da Cirurgiã de serviço ( firme, profissional e empática no vigor dos trintas e poucos especulo).
Uma hora de ansiedade com a calma com que as drogas nos tomam e a firmeza superlativa nas vozes mesmo quando quase tudo foi diferente do expectável ( existem interjeições que ficam no templo sagrado do bloco operatório assumo firmemente). Ao longe ouço música baixa talvez resistência e heróis do mar...talvez seja uma alegoria do meu imaginário...talvez...
Tudo acaba em trinta segundos (começou há 1 hora fora a panóplia de preparo anestesista com mais sessenta minutos...) implante do cristalino feito, catarata removida.
Rapidamente passo para um sofá azul com rodas sólidas....visível a satisfação de todos corporizado na voz firme da Cirurgiã que extenuada mergulha no sofá encostado á parede branca do bloco e no carinho de alguém que me quer colocar rapidamente a comer bolachas e a beber um chá quente e aromatizado com esperança.
Solto um obrigado cansado mas sincero e sou empurrado para um canto confortável onde uma das anestesistas me chega o almejado chá enquanto que nas minhas mãos já caminham bolachas Maria ( eterno clássico tuga) rumo a um estômago esburacado ( estou sem comer e beber desde as 09 da manhã...são agora 18 e 53).
Visto me o mais rapidamente possível já com a Fernanda vigilante á minha espera e o João no carro preparado para zarpar e preparado para me levar a casa.
( Todos os que me deram força foram transbordantes mas os meus pais, a Fernanda e o João foram heróis decisivos na paciência e ânimo que me transmitiram e apoio prestado).
Alívio, alegria ( sinto me verdadeiramente feliz), e uma vontade de chegar rapidamente a casa para me afogar num abraço aos meus pais e devorar avidamente comida quente e apetitosa rumo a um descanso eufórico.
"Tinha tudo para correr muito mal...acabou tudo por correr muito bem"
Três dias com luz e visão em crescendo...rumo mais calmo a consulta no salão Neo clássico do Santo Antônio.
A simpatia já expectável ( agora com sotaques tugas e africanos com a mesma doçura açucarada e cuidado).
Exame rápido e medição das lentes para os óculos. Consulta com a Dra Luísa (a Cirurgiã obstinada e que galgou o imprevisto de última hora com mestria e gosto pelo desafio apresentado).
Reforço de gotas, prescrição de comprimidos e a mesma voz firme e empática : "Tinha tudo para correr muito mal...acabou tudo por correr muito bem".
( Mais uma vez refaço o código não se conta tudo o que se ouve no bloco, não se revelam todas as palavras de uma consulta pós cirurgia).
Esperança na recuperação e mais uma dança no dia 6 de Dezembro.
Como em muito na minha vida... alicerçado na fé na esperança...na superação e resiliência.
Nunca sozinho...nada sozinho... absolutamente acompanhado... absolutamente e radicalmente amado.
Tentarei sempre que a esperança da (na) minha alma seja maior imensamente que o somatório dos meus medos.

De dentro de mim para vós

Paulo Correia

quinta-feira, maio 13, 2021

Conversas na Praia (made in mothers day)




Seria bastante banal (mas real 😁) destilar umas palavras escorreitas a mencionar que a minha Mãe guerreira é a melhor matriarca de todo o universo mas prefiro contar vos uma pequena história... ...na véspera da minha partida para o Porto rumo á faculdade e a mil sonhos por realizar, recordo me de estarmos os três ( Mãe, Pai e eu) sentados no areal da Praia de Faro a contemplar o Mar em silêncio quase absoluto, somente interrompido pelo barulho das ondas a morrerem nos grãos da areia sem tempo.
Medos e receios, altura de conjetura não muito favorável no contexto econômico para nós por factores que me recuso a acrescer aqui em palavras ( existem coisas que morrem connosco e que o tempo encarrega de sarar); a minha Mãe quebra subitamente o silêncio e diz me olhos nos olhos "meu filho um dia de cada vez, o que conseguires dia após dia será uma vitória"...
Nunca me esqueci do sentido destas palavras que somente nós os três percebemos na íntegra. Ainda hoje tudo o que fui conseguindo no prete á porter da vida não é fruto de uma falsa humildade ou de uma sensação de inferioridade ou submissão perante ninguém...o que a minha Mãe me quis dizer naquele final de tarde algarvio foi que dia a dia, grão a grão, sonhando e lutando diariamente podemos indo somando vitórias "pequeninas" que se traduzem numa glória mais saborosa e conseguida.
Nunca nos vergarmos, nunca nos rendermos, nunca deixarmos de lutar por um amanhecer melhor e nunca mas nunca deixarmos os sonhos morrerem dentro de nós ... Para ti Virginia Correia ♥️ que és o melhor do que trago dentro de mim um Amo te profundo por tudo o que o tempo não apaga: Como uma frase num final de dia fez de mim o homem que hoje sou...
Do teu Paulinho 💪🙏❤️

sábado, abril 24, 2021

24 (do nosso Abril)

 




Nasci em 1974, ano numérico da revolução do nosso contentamento de sair das entranhas de um obscurantismo totalitário em que a miséria dos três efes (fado, futebol e Fátima) ditavam as regras com que os pastores regiam manada.

Sou fruto desse amor por Abril, de uma mulher simples mas forte e decidida que trabalhava numa fábrica de cortiça detida por um alemão e onde inconscientemente se fez uma das primeiras greves solidárias em Portugal  por uma funcionária grávida à beira da exaustão. 

Também a seiva rebelde de um homem inquieto mas leal que preferiu combater numa guerra que não era a sua do que renegar o amor e presença daqueles que lhe aqueciam o coração. 

Ironicamente (e sortilégio feliz) os meus pais casaram a 27 de Abril do ano da revolução dos cravos pelo registo civil numa cerimónia simples, num ano onde um maravilhoso mundo novo parecia nascer.  Nunca acharam pertinente a bênção da madre igreja independentemente da sua fé enraizada num deus de tolerância e liberdade que também adoptei por meu. 

Nasci desta mescla, misto do desastre de um período de dores pós coloniais, extremismos de direita e esquerda mas também do milagre do rumo desarrumado avançando para  um mundo livre com acesso à esperança de um amanhecer melhor. 

Podemos voltar sempre ao fado fatalista que Abril não se cumpriu, que o sistema político não funciona e que os Sócrates e Salgados desta vida geraram o descontentamento com que se pariram  os demagogos do Chega encabeçados pelo vendedor da banha da cobra  barata que dá pelo nome de André Ventura. 

Prefiro alinhar de ânimo livre que mais vale uma democracia com assimetrias gritantes pela qual vale a pena lutar do que uma ditadura cinzenta com o nacional seguidismo de um rebanho envolto na mansidão letargica de uma noite sem fim. 


Nota final:Como homem de esquerda custa me "engolir" o veto com fraco pretexto que os organizadores das cerimónias oficiais vetaram a IL... esperava muito mais do coronel Vasco Lourenço... 











terça-feira, fevereiro 02, 2021

"73 Road" (and going...)



Que dizer? Tanto já foi escrito no papel e nas páginas da vida, tanto já foi ( e é) sentido diariamente...o meu melhor amigo Policarpo ( "por acaso" meu PAI) faz 73 anos de pura rebeldia, bom humor e alegria alegre de se alegrar com as pequenas grandes vitórias da vida...Um abraço do tamanho do mundo e um beijo com o AMOR que nos une (aos três pois somos indissociáveis e indivisíveis)...Amo-te com a fúria da nossa rebeldia ( que herdei em muito de ti...ainda bem que a Mãe acalma isto tudo com o seu olhar imenso😉😊)...agradeço te do ♥️ tudo o que me tens dado sem nunca pedir nada em troca. ...do teu puto Paulinho🙏

quarta-feira, agosto 26, 2020

O Inferno do Nosso Céu




 A nossa vida prévia era perfeita e nós não sabíamos (ponto afirmativo absoluto e sem discussão).


Esplanada cheia, com copos agudos de líquidos vários, risos estridentes intercalados por vozes múltiplas no orgasmo de uma noite de convívio. Na Tv as noticias habituais, formatadas na tendência global de um mundo sempre a explodir na torre de Babel da não tolerância.

Um tema comum introduzido quase á surdina toma forma de zumbido crescente: Um vírus misterioso nasceu na gigante e longínqua China. Noticia quase de rodapé mas repetida na exaustão intuitiva que algo se aproxima para inquietar almas e alterar comportamentos. 

Está um calor anormal em Fevereiro numa qualquer noite onde vivemos numa falsa sensação de segurança, em breve tudo mudará numa onda de choque que irá varrer o globo de forma impiedosa e ditará os passos que transformarão as nossas vidas colectivas para sempre.

Entre as teorias da conspiração e as origens de um mal enigmático, dormitamos num sono inseguro que nos afastará do mundo tal e qual o conhecemos e intuímos. Brevemente apartamentos e casas se transformarão em locais de isolamento laboral e pessoal. Termos como "confinamento", "quarentena" , "teletrabalho" (trabalho remoto) se unirão ao impacto de "corona vírus" (mais tarde "covid19).

Os gigantes económicos que ditam os nossos passos no dia a dia absorvem-nos com uma benevolência falsa com o slogan dos vendedores da banha da cobra: "Paguem (um pouco) mais tarde" afirmam.

Em cada lar uma fortaleza, em cada alma a inquietude da saudade, em cada olhar o medo flamejante do gelo do futuro outrora certo.

Poderíamos vociferar que este é apenas mais um ano, mais um vírus, mais uma barreira (invisível), suspirar num optimismo de que "tudo irá ficar bem" mas lá no fundo da nossa alma inquieta sabemos que nada será como outrora no antigamente de um passado sempre presente na memória.

Tão somente vivenciamos o Inferno do Nosso Céu...apenas não o pressentimos a tempo...




segunda-feira, março 09, 2020

"M" de Mulhere(s)




|Algumas notas soltas numa tarde fria de Domingo, dia de preguiça antecedendo a luta do dia a dia semanal de trabalho: Uma sentida homenagem a todas as Mulheres que marcam a cadência da vida, que dão e libertam vida, a todas as Mulheres que lutam, labutam, criam, choram, e são fortes e determinadas. A todas as que ainda são escravizadas, abusadas, maltratadas psicologicamente e fisicamente. A todas as que ainda morrem às mãos de brutos fisicamente ou...morrem um pouco todos os dias. Lamentável ainda ter que existir um dia da Mulher para marcar direitos que já deveriam ser absolutos em pleno século XXI. Na foto um mosaico de sentimentos ...minha Mãe e minha avó materna...duas gerações, lutas diferentes e adversidades díspares mas o mesmo sentimento de determinação de, á sua maneira, ir mais além|

Uma nota ( também ilustrada nas fotos) das Mulheres curdas que preferem morrer como seres humanos livres a combater o mal do que serem escravizadas para a eternidade e castradas no seu direito absoluto de liberdade.

Para mim Homem, ser Mulher significa a fortaleza e capacidade de superação constante, a bússola constante que ilumina os caminhos mais sombrios, e também o direito á diferença...a eterna diferença saudável do Homem e da Mulher mas igual nos direitos, nas oportunidades, no mundo e na universalidade que nos constitui a todos seres humanos.

Portanto a todas vós não um feliz dia mas um feliz ano, uma feliz vida e plena!!!

Beijos com admiração de um Homem às Mulheres que o marcaram ( e marcam).
Paulo Correia

terça-feira, maio 28, 2019

Berardo e a Face do (não) Destino

Não poderei dizer que o alto impacto mediático das (não) declarações de Joe Berardo no parlamento lusitano  me tenham particularmente apanhado desprevenido e com a "guarda em baixo". 

Vivemos num Pais onde os grandes (pseudo) banqueiros, os políticos maratonistas de carreira partidária de fundo, ou os gestores nomeados para os Jobs dos Boys, não representam mais do que o sentimento de impunidade que grassa em quem prevarica em alta escala com o dinheiro de todos nós.

Joe representa a face mais sombria da moeda: A velha história (falsa neste caso) do tuga que arduamente singra na vida, qual história da Linda de Suza e sua mala de cartão na versão cor de rosa e não realista da coisa.

Berardo representa o gozo da impunidade sem (com) cor partidária, o humor seco e escancarado no descaramento de quem sabe não ser apanhado na teia da justiça. Tão somente um comércio proteccionista fomentado pelas várias lógicas de aparelhos de poder onde a escala de distribuição de dinheiro ilícito faz paragem obrigatória em muitas igrejas ávidas por molhar o bico sequioso das patacas douradas dos empréstimos colossais que nunca serão pagos (cobrados).

Continuamos a ser o pais do (não) destino, das bifurcações sinuosas que escorregam em negócios de ocasião, em compadrios financeiros sem nexo; em fundações culturais (re)pagas vezes sem conta com a capa da arte pública ao (aparente) alcance de todos.

José Manuel Rodrigues Berardo envergonha os intrépidos Madeirenses que galgaram oceanos para lutar por um futuro melhor nos continentes do mundo globalizado. No geral faz corar de vergonha a imensa legião de portugueses que diariamente lutam honradamente por um futuro melhor para si e para o seu clã.

Mas o cerne da questão é a falta de vergonha não punitiva de quem tem uma fortuna avaliada em seiscentos e oitenta  milhões de  euros e deve cerca de mil (milhões) á banca...



terça-feira, setembro 25, 2018

Paradoxos da Tangência


A vida é feita de tangentes, verdade para mim vivenciada vezes sem conta desde os tempos tenros até ao presente galopante que cavalga o dia a dia sempre apressado que corrói, constrói e (des)contrói.

Uma tangente e seu paradoxo corresponde ao fio da navalha com duas lâminas aguçadas: Uma para o "jardim do bem" outra para o "jardim do mal". Confusos?!...nada de muito complicado para interiorizar e intuir.

Aquele olhar á tangente, no limite do "fora de jogo", olhar que foge para alguém com o qual não nunca mais nos iremos cruzar na vida, olhar que mata, olhar que fere, olhar que ama. A tangente de um passo mal dado ou de uma ultrapassagem (quase) mal calculada (na estrada da vida).

Todos nós vivemos nos limites dos sonhos que perseguimos, daquele metro que passou há um minuto e nunca mais apanharemos com a disformidade de rostos e situações potenciais nas quais não seremos envolvidos pela tangente (perdida) de um minuto que pode representar a mudança de direcção de uma vida inteira.

Tudo se mede afinal  pelos metros que apanhamos, pelos comboios que perdemos, pela ultrapassagem que (não) fazemos numa qualquer auto estrada ora cheia de trânsito, ora vazia e oca somente preenchida pela luz dos sinais e seus códigos de cores.

Ao fim ao cabo um "para-arranca" eterno no qual estamos presos e condenados ao limbo que as nossas escolhas nos ditam.

Tudo é um paradoxo e uma tangência, ora o que fazemos, ora o que não fazemos. Rumos e ultrapassagens a velocidades variáveis. Como a vida: Uma imensa mescla, misturada com a irregularidade que as ondas do mar nos proporcionam.

Mas o que seria da vida sem paradoxos, tangências ou reconstrução de ciclos e abertura de novos trilhos para caminhar?!