Olá Tio espero que a viagem tenha sido boa.
Não sei se já chegaste mas sei convictamente que não partiste.
Continuas a caminhar firmemente no meio de nós com aquele sorriso espontâneo e alegria de viver que continua a contagiar.
Imagina que ao ir ao teu encontro o comboio chamava se liberdade e tinha gravado os teus cravos de Abril, vermelhos como o teu sentimento de liberdade individual e colectiva.
Imagina que, no sitio onde os que te amam se juntaram para te celebrar, está um busto do Salgueiro Maia assinalando novamente os votos renovados da liberdade que te preenche.
Imagina que a tua filha me chamou "primo malvado" por recontar as tuas histórias e no meio das lágrimas e nostalgia provocar risos como aqueles que tu gostavas de dar e receber.
Imagina que me sinto de coração leve por saber que irás continuar a tua caminhada repleta de aventuras renovadas com a tua sede de tudo questionar (Deus meteu se em sarilhos por que tu nunca irás deixar de colocar questões e dúvidas existenciais).
Isto aqui não será o mesmo sem ti.
Vão faltar as nossas conversas de horas a falar de tudo e de nada.
Ficará na minha mente as idas ao alentejo e as sandes de presunto com batatas fritas crepitantes.
Não me esquecerei nunca dos domingos de praia com cerveja gelada e sandes de chouriço alentejano e o embaraço da Patricia com o qual tu te deliciavas de forma deliciosa.
Naquelas águas calmas do Atlântico ensinaste me a nadar sem pé e a arriscar na vida, combatendo sempre.
No chão pelado do campo da horta da areia impeliste me a andar de bicicleta. Lembras te? Descíamos a rua do matadouro e desaguávamos nas salinas onde o sal salgado e árido brilhava com o teu unico deus Sol.
Continuarei a falar contigo e a questionar as tuas respostas, como sempre tu continuarás a responder me calmamente e a dizer que te estou a tentar "dar a volta".
Sei que continuarás a colocar o "outro" em primeiro lugar e a apoiar com alegria sincera quem mais necessita.
Sei que estás aliviado e em paz, não houve missas nem discursos demagógicos (não quisermos arriscar a tua fúria e reprimenda, ainda interrompias a discussão dialéctica com Deus e regressavas para nos repreender).
Não sei se já chegaste mas sei que não partiste.
Um abraço do teu amigo Paulinho