quinta-feira, novembro 18, 2021

"Na Corda Bamba"










"De coração cheio"
(Alerta: Texto excessivamente longo e lamechas.)

No dia 6 Novembro virei o cabo da boa esperança para as 47 voltas completas ao sol. Foram centenas de mensagens nas suas variadas formas nas redes sociais, uma enxurrada abençoada de telefonemas e a presença física ( no dia e véspera ) de pessoas que moram no meu coração .
A todos um sentimento de gratidão por me fazerem sentir imensamente amado .

"Na antecâmara das dúvidas"
Entre prendas, lembranças e mimos levantava se agora em mim o medo de uma cirurgia que aguardava ansiosamente há cerca de um ano e meio.
Foi assim um aniversário bom e preenchido mas com o pensamento na antecâmara da tarde de 8 de novembro onde uma ida ao ambulatório do CICAP removeria uma catarata (que se revelaria perigosa, traumática, "madura" e altamente inflamada).
Como muitas coisas na minha vida não poderia ser assim tão simples e evidente. Por aqui não existem facilitismos e até no karma da rotina surge sempre algo inesperado.

"Da escuridão á Luz "
O check in borrado de dúvidas, um atendimento de excelência humana e profissional em todo o serviço de oftalmologia Santo António, levou me a uma estranha calma.
Troca de roupa pela bata da praxe, início das hostilidades com gotas de anestesia rotineiras, um cateter colocado á primeira tentativa nas veias salientes e a espera começa...
(metade do pessoal de enfermagem de oftalmologia tem sotaque quente transmontano e isso foi reconfortante)
Troca para uma maca numa sala mais resguardada , mais anestesia nas veias, tubos no nariz para mais um aroma de relax...mais...mais e mais ..
Voz suave da anestesista ...agulha 6 cm abaixo do olho ..."para você ter poucas ou nenhumas dores...vai demorar mais um pouco ... 15 ou 20 minutos para fazer efeito".
A adrenalina dispara um pouco mas a pressão do medidor arterial e das ventosas para o ritmo cardíaco, dão me sinal mental para não me cagar nas calças e ser forte e determinado...estou ali para não f...a vida a quem vai tentar tratar de mim.
Assim Seja Assim Será
Nova volta rápida para o bloco operatório (isolado)...um formigueiro com sete elementos com simpatia desarmante e a preparar o procedimento . Olho "bom" tapado, o danificado só vê sombras e já altamente sedado. Cabeça ligada entre um molde para mexer o mínimo possível e a dança começa.
Olho sempre húmido com a voz firme da Cirurgiã de serviço ( firme, profissional e empática no vigor dos trintas e poucos especulo).
Uma hora de ansiedade com a calma com que as drogas nos tomam e a firmeza superlativa nas vozes mesmo quando quase tudo foi diferente do expectável ( existem interjeições que ficam no templo sagrado do bloco operatório assumo firmemente). Ao longe ouço música baixa talvez resistência e heróis do mar...talvez seja uma alegoria do meu imaginário...talvez...
Tudo acaba em trinta segundos (começou há 1 hora fora a panóplia de preparo anestesista com mais sessenta minutos...) implante do cristalino feito, catarata removida.
Rapidamente passo para um sofá azul com rodas sólidas....visível a satisfação de todos corporizado na voz firme da Cirurgiã que extenuada mergulha no sofá encostado á parede branca do bloco e no carinho de alguém que me quer colocar rapidamente a comer bolachas e a beber um chá quente e aromatizado com esperança.
Solto um obrigado cansado mas sincero e sou empurrado para um canto confortável onde uma das anestesistas me chega o almejado chá enquanto que nas minhas mãos já caminham bolachas Maria ( eterno clássico tuga) rumo a um estômago esburacado ( estou sem comer e beber desde as 09 da manhã...são agora 18 e 53).
Visto me o mais rapidamente possível já com a Fernanda vigilante á minha espera e o João no carro preparado para zarpar e preparado para me levar a casa.
( Todos os que me deram força foram transbordantes mas os meus pais, a Fernanda e o João foram heróis decisivos na paciência e ânimo que me transmitiram e apoio prestado).
Alívio, alegria ( sinto me verdadeiramente feliz), e uma vontade de chegar rapidamente a casa para me afogar num abraço aos meus pais e devorar avidamente comida quente e apetitosa rumo a um descanso eufórico.
"Tinha tudo para correr muito mal...acabou tudo por correr muito bem"
Três dias com luz e visão em crescendo...rumo mais calmo a consulta no salão Neo clássico do Santo Antônio.
A simpatia já expectável ( agora com sotaques tugas e africanos com a mesma doçura açucarada e cuidado).
Exame rápido e medição das lentes para os óculos. Consulta com a Dra Luísa (a Cirurgiã obstinada e que galgou o imprevisto de última hora com mestria e gosto pelo desafio apresentado).
Reforço de gotas, prescrição de comprimidos e a mesma voz firme e empática : "Tinha tudo para correr muito mal...acabou tudo por correr muito bem".
( Mais uma vez refaço o código não se conta tudo o que se ouve no bloco, não se revelam todas as palavras de uma consulta pós cirurgia).
Esperança na recuperação e mais uma dança no dia 6 de Dezembro.
Como em muito na minha vida... alicerçado na fé na esperança...na superação e resiliência.
Nunca sozinho...nada sozinho... absolutamente acompanhado... absolutamente e radicalmente amado.
Tentarei sempre que a esperança da (na) minha alma seja maior imensamente que o somatório dos meus medos.

De dentro de mim para vós

Paulo Correia

quarta-feira, junho 09, 2021

Posing Act

 




|Mini break at lunch time (com a surpresa bem positiva de rever um velho amigo)|
Seguimos juntos e com esperança neste tempo sem tempo lutando por dias melhores que já estão aí ao virar da esquina.

quinta-feira, maio 13, 2021

Conversas na Praia (made in mothers day)




Seria bastante banal (mas real 😁) destilar umas palavras escorreitas a mencionar que a minha Mãe guerreira é a melhor matriarca de todo o universo mas prefiro contar vos uma pequena história... ...na véspera da minha partida para o Porto rumo á faculdade e a mil sonhos por realizar, recordo me de estarmos os três ( Mãe, Pai e eu) sentados no areal da Praia de Faro a contemplar o Mar em silêncio quase absoluto, somente interrompido pelo barulho das ondas a morrerem nos grãos da areia sem tempo.
Medos e receios, altura de conjetura não muito favorável no contexto econômico para nós por factores que me recuso a acrescer aqui em palavras ( existem coisas que morrem connosco e que o tempo encarrega de sarar); a minha Mãe quebra subitamente o silêncio e diz me olhos nos olhos "meu filho um dia de cada vez, o que conseguires dia após dia será uma vitória"...
Nunca me esqueci do sentido destas palavras que somente nós os três percebemos na íntegra. Ainda hoje tudo o que fui conseguindo no prete á porter da vida não é fruto de uma falsa humildade ou de uma sensação de inferioridade ou submissão perante ninguém...o que a minha Mãe me quis dizer naquele final de tarde algarvio foi que dia a dia, grão a grão, sonhando e lutando diariamente podemos indo somando vitórias "pequeninas" que se traduzem numa glória mais saborosa e conseguida.
Nunca nos vergarmos, nunca nos rendermos, nunca deixarmos de lutar por um amanhecer melhor e nunca mas nunca deixarmos os sonhos morrerem dentro de nós ... Para ti Virginia Correia ♥️ que és o melhor do que trago dentro de mim um Amo te profundo por tudo o que o tempo não apaga: Como uma frase num final de dia fez de mim o homem que hoje sou...
Do teu Paulinho 💪🙏❤️

sábado, abril 24, 2021

24 (do nosso Abril)

 




Nasci em 1974, ano numérico da revolução do nosso contentamento de sair das entranhas de um obscurantismo totalitário em que a miséria dos três efes (fado, futebol e Fátima) ditavam as regras com que os pastores regiam manada.

Sou fruto desse amor por Abril, de uma mulher simples mas forte e decidida que trabalhava numa fábrica de cortiça detida por um alemão e onde inconscientemente se fez uma das primeiras greves solidárias em Portugal  por uma funcionária grávida à beira da exaustão. 

Também a seiva rebelde de um homem inquieto mas leal que preferiu combater numa guerra que não era a sua do que renegar o amor e presença daqueles que lhe aqueciam o coração. 

Ironicamente (e sortilégio feliz) os meus pais casaram a 27 de Abril do ano da revolução dos cravos pelo registo civil numa cerimónia simples, num ano onde um maravilhoso mundo novo parecia nascer.  Nunca acharam pertinente a bênção da madre igreja independentemente da sua fé enraizada num deus de tolerância e liberdade que também adoptei por meu. 

Nasci desta mescla, misto do desastre de um período de dores pós coloniais, extremismos de direita e esquerda mas também do milagre do rumo desarrumado avançando para  um mundo livre com acesso à esperança de um amanhecer melhor. 

Podemos voltar sempre ao fado fatalista que Abril não se cumpriu, que o sistema político não funciona e que os Sócrates e Salgados desta vida geraram o descontentamento com que se pariram  os demagogos do Chega encabeçados pelo vendedor da banha da cobra  barata que dá pelo nome de André Ventura. 

Prefiro alinhar de ânimo livre que mais vale uma democracia com assimetrias gritantes pela qual vale a pena lutar do que uma ditadura cinzenta com o nacional seguidismo de um rebanho envolto na mansidão letargica de uma noite sem fim. 


Nota final:Como homem de esquerda custa me "engolir" o veto com fraco pretexto que os organizadores das cerimónias oficiais vetaram a IL... esperava muito mais do coronel Vasco Lourenço... 











quinta-feira, fevereiro 25, 2021

"A Falta dos Afectos que Mora em Todos Nós"

 Uma das novas realidades que a pandemia que nos açoita a todos me tem revelado no dia a dia tem sido a carência afectiva óbvia e evidente que mora em todos nós sem excepção.

Como assessor de comunicação da Sopro de Carinho Associação e com um contacto diário com dezenas de doadores individuais e empresariais, as conversas arrastam se agora para um campo mais pessoal e de mutualidade compreensiva.

Com mais de vinte anos de trabalho na área global da comunicação, sempre considerei uma das chaves base do sucesso de cada projecto o trabalho de equipa e respeito pelas individualidades dentro do colectivo, bem como o "acesso" ao factor individual de cada cliente, fornecedor e parceiro de negócio.

Há já uma década a trabalhar na área do marketing social na componente infantil e pré adolescente para mim é impossível não existir um envolvimento afectivo forte com todos os que directa ou indirectamente contribuem para o meu (nosso) trabalho.

Já atravessei (atravessámos) fases com nuvens e sombras com o expoente a ser a perda da primeira Criança ligada aos apoios gerados na Associação. Sensação de murro no estômago e de impotência colectiva que nos deu (ainda) mais força para continuar mesmo na dor mitigada de uma perda que considerámos como um dos nossos.

O novo confinar das nossas vidas pessoais e laborais leva-nos inevitavelmente para o (re)pensar o somatório dos nossos medos quotidianos, inseguranças e zonas menos seguras.  A falta de um café entre amigos, um vinho aromatizado em cada rosto conhecido, bem como o odor do nosso escritório de sempre e os cheiros de quem o percorre, são alguns dos bons momentos que nos dão segurança para transpor a insegurança diária.

A falta dos afectos mora mesmo em todos nós...por quanto mais tempo?!


segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Em Roma...

 



Em Roma...no início de uma viagem com requinte de suspense desde o primeiro dia ( ou como podemos transformar uma situação menos boa em algo positivo)...basicamente o pior hotel de sempre 😁 ( cuidado com a publicidade enganosa 🇮🇹🍝).

terça-feira, fevereiro 09, 2021

A Dualidade que nos Mantém



 Lembro me há alguns anos atrás de uma queima das fitas memorável em que fiquei alguns dias sem falar com os meus pais (eu no Porto, eles no Algarve). O Vareta recebeu uma chamada da minha Mãe, preocupada pelo telemóvel sem bateria permanente, e transmitiu-me a mensagem passados três dias (!!!) do final de mais uma semana de todo o contentamento da puberdade quase adulta onde o deus baco e a alegria da imortalidade efémera imperava.

O tempo do tempo indiscutivelmente muda-nos. Não há dia que não fale com os meus pais meia dúzia de vezes, entre telefonemas e chamadas de video, entre conversas profundas e tiradas de humor, entre emoções sempre fortes e intensas.

A vida muda não os sentimentos (quando são daqueles bons e que nos aquecem o coração) mas transfigura a forma como corporizamos a presença e o amor por aqueles que por vezes não estão tão próximos como desejaríamos a nível geográfico.

Somos todos independentes, viajamos até paragens longínquas, corremos mil (des)aventuras, mas existe sempre aquela dualidade que nos mantém: "Olá bom dia meu filho"...tão bom...sempre...para sempre...mesmo que saibamos que o "para sempre" um dia habitará somente o nosso horizonte de memórias mas que nos empurrará  para a frente.

quarta-feira, fevereiro 03, 2021

"Até que as Urnas nos Separem" (parte I)

 Optei por fazer um compasso de espera para destilar mais a frio algumas linhas soltas (mas ponderadas) acerca das presidenciais made in 2021 (com selo covid) em Portugal.

A par da vitória mais que esperada do "candidato de todos" (tantas foram as colagens ao sucesso de Marcelo...) o fenómeno preocupante centra se na direita extrema e populista que ás costas de Ventura galga meio milhão de votos e ameaça a práxis democrática, dando azo a uma direita oca e de extremos bem perigosos e demagogos.

Por mais que possamos analisar a derrota comunista e bloquista, o segundo lugar de Ana Gomes (saberá aproveitar o seu score no futuro próximo?), e as votações interessantes do candidato da iniciativa liberal e até de Tino de Rans (mais de cem mil votos...); tudo resvala de como foi possível um candidato oco, demagogo e alicerçado em fontes de financiamento no mínimo duvidosas, ter ganhado terreno no campo democrático.

Das duas uma: Ou estamos a assistir a um voto de protesto desesperado em que o medo, raiva e afins triunfaram e desmontaram a total deserção do sistema politico vigente que não responde ás expectativas geradas (esperadas) ou estamos num pais que algum fascismo encoberto durante décadas afiou as facas longas e ganhou coragem para finalmente ter um partido que corporizasse a sua forma redutora e radical de encarar o modus vivendi individual e colectivo.

Gostava como democrata e filho da democracia de Abril que fosse apenas o desespero a resposta para esta radicalização, mas temo que a resposta seja bem mais vasta e preocupante...retomarei o tema brevemente...




terça-feira, fevereiro 02, 2021

"73 Road" (and going...)



Que dizer? Tanto já foi escrito no papel e nas páginas da vida, tanto já foi ( e é) sentido diariamente...o meu melhor amigo Policarpo ( "por acaso" meu PAI) faz 73 anos de pura rebeldia, bom humor e alegria alegre de se alegrar com as pequenas grandes vitórias da vida...Um abraço do tamanho do mundo e um beijo com o AMOR que nos une (aos três pois somos indissociáveis e indivisíveis)...Amo-te com a fúria da nossa rebeldia ( que herdei em muito de ti...ainda bem que a Mãe acalma isto tudo com o seu olhar imenso😉😊)...agradeço te do ♥️ tudo o que me tens dado sem nunca pedir nada em troca. ...do teu puto Paulinho🙏

Me & Maria

 




|Me & Maria numa foto made in Sopro De Carinho  
(como o tempo escorre entre os dedos...)|