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quinta-feira, abril 16, 2020

Diário de um Quarentão (em "quarentena") Parte I




Tempos estranhos estes que vivemos no enredo de uma pandemia (infelizmente tão previsível) neste mundo globalizante em que voamos todos os dias a uma velocidade vertiginosa sem tempo, muitas vezes, para pensar, tão somente para agir (reagir).

No meio dos "quarentas" vejo me confinado (como milhões) a um exílio forçado e á limitação de acções e livres arbítrios que eram dados como adquiridos com o selo de  propriedade absolutista de cada um de nós.

Os actos (outrora) banais das rotinas do dia a dia tornaram-se na sua remodelação pandémica uma força libertadora á qual me agarro como o ar precioso que todos nós respiramos. Ir comprar pão quente e fumegante, passear o Beiças para as necessidades caninas básicas ou fumar um cigarro rápido a olhar para o céu do futuro incerto, parecem-me manjares dignos de qualquer deus do Olimpo terreno.

A vida tal e qual como a conhecíamos foi suspensa momentaneamente, nas redes sociais do nosso (des)contentamento derramamos as fotos de almoços e jantares passados, de viagens majestosas e de grupos de amigos e famílias inteiras desfeitas fisicamente qual muro de Berlim universal (ou grande muralha da China...) que nos emparedou a todos.

Ao final da tarde fria e chuvosa a libertação da varanda e do jardim; leitura lânguida e atenta  devorando um cigarro lento como o tempo congelado dentro do copo de vinho encorpado pelas nuvens que passam. Pés nus no chão frio mas a alma vestida com o sentimento forte que voltarei a trajar as roupagens de um passado recente onde nos tocávamos , beijávamos  e se partilhavam copos e afectos no cheiro e odor da presença física e quente daqueles que iluminam o nosso mundo.

segunda-feira, julho 08, 2019

Jangadas de Pedra: Do mediterrâneo á América do Norte.

Assobiamos para o lado, revoltamo-nos momentaneamente com fotos choque mas entre mortos mediáticos e afogamentos em massa, seguimos a nossa vida diária, sofrendo momentaneamente, aliviando a nossa consciência de cidadãos do mundo com posts nas redes sociais e mensagens de indignação.

Do mediterrâneo á América do Norte circulam jangadas de pedra com pessoas de carne e osso; rostos uniformes no sofrimento e na ânsia de uma vida melhor longe das paredes esburacadas com o sangue de guerras alimentadas mundialmente á escala politicamente correcta de conflitos denominados como"regionais".

A massa política (a radical) alimenta o discurso de que não podemos receber estes migrantes sem pátria aparente, do perigo de terroristas camuflados na turba sofredora, de "encostados sociais" que somente desejam viver á custa do erário público europeu e americano.

Nada de mais (no global) errado. Entre milhares de deslocados existem obviamente um número de indivíduos potencialmente perigosos e danosos para a potencial sociedade de inserção. No entanto a amálgama formativa da multidão revê se no desespero do salto do escuro perseguindo um foco de luz de esperança para um futuro melhor.

Não existe senso (estado)  racional  que constitua como arguidos pessoas que se preocupam com pessoas, pessoas que salvam pessoas de morrerem sozinhas no escuro de um mar gelado ou abraçados aos filhos num leito de rio fronteiriço. Não existe lógica do nominal social de que por não termos (nós mundo) condições económicas e sociais para recebermos uma multidão de desamparados e fugitivos do horror os deixemos a afogar e a assobiar alegremente para o lado.

Concordo em absoluto que as políticas de entrada de cidadãos tem de ser legisladas, (re)formatadas e feitas em concordância com um equilíbrio que permita a a todos terem acesso á dignidade, ao alimento, educação e segurança. Concordo de que não é possível na Europa e nos States (infelizmente tão Trumpianos nos dias que correm), recebermos sem lei nem roque "tudo e todos". Reforço que os potenciais terroristas e elementos nocivos para as sociedades de inserção devem ser identificados e sujeitos a controle absoluto e apertado.

No entanto condenar heróis que salvam, reprimir de forma selvagem, construir muros intransponíveis não resolve o problema, somente o radicaliza e o agrava.

Urge o (re)encontro de conceitos e políticas que permitam que pessoas como Miguel Duarte ou Carola Rackete não sejam considerados míseros criminosos apenas tão somente por salvarem o seu semelhante.

No complemento da desgraça colectiva, um mea culpa das grandes (e intermédias) potências relativamente a uma política externa com base na premissa do preço do barril de petróleo e da conquista territorial (real, política e virtual no jogo de controles de poderes e sub poderes).

O caminho faz-se caminhando...não cimentando muros físicos e mentais...






terça-feira, setembro 25, 2018

Paradoxos da Tangência


A vida é feita de tangentes, verdade para mim vivenciada vezes sem conta desde os tempos tenros até ao presente galopante que cavalga o dia a dia sempre apressado que corrói, constrói e (des)contrói.

Uma tangente e seu paradoxo corresponde ao fio da navalha com duas lâminas aguçadas: Uma para o "jardim do bem" outra para o "jardim do mal". Confusos?!...nada de muito complicado para interiorizar e intuir.

Aquele olhar á tangente, no limite do "fora de jogo", olhar que foge para alguém com o qual não nunca mais nos iremos cruzar na vida, olhar que mata, olhar que fere, olhar que ama. A tangente de um passo mal dado ou de uma ultrapassagem (quase) mal calculada (na estrada da vida).

Todos nós vivemos nos limites dos sonhos que perseguimos, daquele metro que passou há um minuto e nunca mais apanharemos com a disformidade de rostos e situações potenciais nas quais não seremos envolvidos pela tangente (perdida) de um minuto que pode representar a mudança de direcção de uma vida inteira.

Tudo se mede afinal  pelos metros que apanhamos, pelos comboios que perdemos, pela ultrapassagem que (não) fazemos numa qualquer auto estrada ora cheia de trânsito, ora vazia e oca somente preenchida pela luz dos sinais e seus códigos de cores.

Ao fim ao cabo um "para-arranca" eterno no qual estamos presos e condenados ao limbo que as nossas escolhas nos ditam.

Tudo é um paradoxo e uma tangência, ora o que fazemos, ora o que não fazemos. Rumos e ultrapassagens a velocidades variáveis. Como a vida: Uma imensa mescla, misturada com a irregularidade que as ondas do mar nos proporcionam.

Mas o que seria da vida sem paradoxos, tangências ou reconstrução de ciclos e abertura de novos trilhos para caminhar?!