Recordo-me dos meus primeiros aromas políticos ás "cavalitas" de meu Pai (e pela mão sábia e carinhosa da minha Mãe) e do mítico cinema ao ar livre de São Luis onde vislumbrei Maria Lurdes Pintassilgo ao vivo e a cores no inicio da década de 80.
De miúdo imberbe e curioso com toda a plástica do mise en cene envolvendo a política e seus intervenientes, passei para a pré adolescência rebelde onde no cinema Santo António vi as lágrimas de meu Pai no entusiasmo de fé desesperada e emocional perante a derrota eminente de Mário Soares (um guerreiro) VS Freitas do Amaral (um cavalheiro) em oitenta e seis.
Cresci na esquerda da esfera das lutas democrática e plurais de grandes figuras com a sedução pelas suas imperfeições hiperbólicas e das suas virtudes morais e de combate (figuras de esquerda, centro e direita note-se...).
Ramalho Eanes representou sempre para mim a verticalidade, o poder de liderança pacifica e a capacidade humanista (ironicamente não militarista...) de unir pontos aparentemente díspares da sociedade portuguesa pós vinte e cinco de Abril.
Sempre analisei este General sereno com um ar (falsamente) austero como alguém fora da órbita partidária tradicional e de todas as guerras (muitas de alecrim e manjerona) dai adjacentes. Figura consensual para muitos, odiado ora por uma certa esquerda mesquinha presa no tempo passado recente do 25 de Novembro (e não só...) e por um centro/direita com o pudor de um conservadorismo (quase) saudosista do salazarismo bafiento; Eanes imperturbável seguiu o seu próprio caminho com a serenidade (leia se seriedade) somente ao alcance de alguns.
Tudo desagua na recente entrevista (para quem não visualizou link aqui) na RTP 1 em que a frase emocionada em que menciona que sendo um "velho" tem obrigação (ele e os "outros") de ceder o seu ventilador, se necessário, a um "homem com mulher e filhos".
Assisti com atenção a criticas construtivas, a não concordâncias bem fundamentadas mas também a um chorrilho de asneiras de pseudo iluminados tentando dar um sentido bem diferente ás palavras emocionais e sábias de Eanes (a meia hora de entrevista para mim é uma ode de inteligência de um grande Homem).
Para mim Eanes merece um titulo de filme de sucesso: Certamente o "último dos (bons) moicanos"....