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quinta-feira, abril 23, 2020

Diário de um Quarentão (em "quarentena") Parte II





Chuva com gotas lentas e escorridas que morrem em ondas curtas de sol forte e pleno no tempo (do tempo sem tempo) que custa a passar. O mês de Abril tem trezentos dias e trezentas noites, com o comprimento de um qualquer muro interminável no qual fixamos o olhar e nos sentimos derrotados á priori (o caminho faz-se...escalando...não?!).

Um caracol corajoso agarra se á parede gasta da minha varanda (do meu refugio ) e com o seu ritmo não frenético abriga se no seu escudo natural ao sentir a curiosidade canina do Beiças. Todos nós procuramos (nestes tempos estranhos e difíceis) santuário seguro e refúgio salvador para podermos fugir aos medos e angústias que nos assolam.

A tarde passa...mas não o caracol...firme e resistente prossegue (persegue) o seu caminho firme, lento, sem desvios. Talvez nos falte isso a nós humanos: O firme caminho da resiliência sem nos desviarmos um milímetro da meta (rota) traçada.

Não resisto de adulterar o destino...pego com cuidado no meu lento novo amigo, altero a trajectória e vicio o jogo. Agora o santuário animal da lentidão está num vaso da minha varanda no meio do verde rotundamente verdejante, mesclado na terra húmida e forte, negra como uma noite escura sem estrelas que pintem o céu (no meio do negro irromperá a esperança).

Longos dias tem Abril e este não ano da nossa (re)descoberta; sim...não não irá ficar tudo bem ou igual, nada será como o amanhecer da esperança de janeiro nem como os ciclos das renovações  firmadas num qualquer pacto de objectivos anuais.

Cresceremos entre a chuva e o sol, entre as gotas que caem do divino ao qual nos agarramos e o calor arrebatador  que nos dá a esperança do escoar  destes tempos com tempo a mais.

Trago a última gota de vinho alentejano, apago um cigarro profundo e olho pela última vez pra um qualquer caracol forte e firme que viu o seu trajecto subvertido (com a melhor das intenções). O Beiças vem me tranquilizar docemente entre quatro patas de carinho e afecto sincero no seu olhar profundo. Acho que me quer apenas latir no seu dizer de que não ficará tudo bem mas no inicio no meio e no fim o AMOR (com letras garrafais) sem fronteiras, os beijos e os abraços triunfarão. 

sexta-feira, abril 10, 2020

Casa...






Nesta época reflexiva onde a pandemia nos afasta mas nos aproxima, onde não nos abraçamos ou beijamos mas reforçamos desejos dos afectos daqueles que no enchem o coração.
Páscoa...renascimento...com ou sem fé no divino, uma altura para reflectirmos e termos a religião fervorosa do amor ao próximo e a nós mesmos...
Afastado fisicamente mas não no espirito e ligação do Amor que me une a muitos, simbolizo o desejo de uma Páscoa em plena paz e tranquilidade com um pequeno bloco de fotos...os meus Pais (este Ano longe fisicamente mas sempre perto do Coração), uma mesa passada que será brevemente o futuro renascido do reencontro...o Beiças fiel amigo que nestas semanas tem sido o meu guardião e o meu frigorifico...sim...o meu frigorifico...marcado pelas viagens que já fiz e simbolizando as que ainda irei fazer depois destes tempos que todos JUNTOS iremos superar
Para todos abraços e beijos na virtualidade que nos afasta momentaneamente mas que brevemente nos unirá na realidade desta aventura chamada VIDA.