Derramo estas linhas com um nervosismo não habitual em mim, calejado em milhares de linhas, em milhões de palavras várias. Os presentimentos (sonhos) estranhos dos últimos dias ganharam corpo infelizmente visivel com laivos de dor alheia, mas que atinge pessoas próximas do meu coração de afectos.
A morte nunca escolhe caminho recto e direito, não escolhe altura própria nem devida. Simplesmente surge com a lentidão irritante de uma folha a cair numa tarde outonal de verão quente. Corrói e salta para o asfalto seco, estilhaçando todos em volta.
Hoje irá se falar na teia mediática da luta inglória mas corajosa de António Feio, que sucumbiu aos 55 anos a um cancro no pâncreas após um ano e meio de combate. Mas hoje também uma menina-mulher vai enterrar seu pai, no anonimato dessa teia do mediático. Uma menina-mulher vai chorar para dentro ou para fora, vai ser amparada pelos muitos que a amam.
Uma menina-mulher vai simplesmente se abraçar à sua mãe guerreira de carne e à sua outra mãe de espirito e amizade sólida que sobrevive a todos os rochedos que a vida derrama na tempestade que não escolhe idades. Faço uma pausa, acendo um chá no corpo quente e fervo no meu ser. Espero um pouco para secar as lágrimas que não derramei hoje à tarde, em troca simples de palavras sempre poucas nestas alturas em que o drama quase nos paralisa.
É uma dor alheia mas que dói, por doer a alguns por quem o meu coração sente. Não conheci o pai da menina-mulher pessoalmente. Apenas um homem, um pai que amava a filha. Neste momento é mesmo o importante da trama do drama: Um pai que amava a filha, uma filha que amava o pai.
O dia desperta lá fora na seiva da vida que se liga à morte. O eterno jogo de ciclos que quebram, começam, recomeçam. Em qualquer sitio do mundo um bebé nasce ou um homem morre. Com a fragilidade das folhas caidas...
Este texto será certamente lido por muita gente, mas dedico-o essencialmente a Ti e à Tua Mãe...