Lembro me como se fosse ontem das históricas mágicas da revolução dos cravos que o meu pai contava com uma lágrima saltitante no canto do olho vivo e claro. Os amigos que perdeu nos calabouços da PIDE, as diabruras da guerra colonial que fizeram dele um vendedor improvisado de cigarros e whisky de contrabando para ter dinheiro para explorar a profunda e sedutora Luanda.
Recordo-me com humor mental a fábula da sua tatuagem feita a sangue frio com o nome "Dalia" gravado; algo que até hoje faz a minha mãe pensar que casou com um Don Juan reformado após anos de combates incessantes. Recordo-me também das sucessivas prisões de meu avô, da primeira vez que o meu pai e o amigo de sempre Lapa, desafiaram a lógica do poder podre e ouviram a Rádio Argel, escondidos claro, na doçura forte do "vozeirão" de Manuel Alegre.
Hoje é 25 de Abril, e daqui a 2 jours fará 36 anos que os meus pais se casaram...2 dias após a revolução quente e pacifica dos cravos uniram estrada e juntaram os trapos. Afinal meu pai tinha prometido em carta sagrada a minha mãe que somente casaria com ela com a liberdade a gotejar pelas torrentes das ruas. Promessa sincera ou forma apaziguadora de adiar o casamento até à eternidade da ditadura? O meu feeling aponta para a primeira opção...
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