Confesso-vos que tenho uma estrutura - na sua génese formativa e prática - de fé muito própria e naturalmente personalizada. Para mim a fé parte, antes de tudo, do nosso eu interior; da forma como encaramos o mundo e procuramos dar o melhor de nós mediante as circunstâncias que por vezes nos limitam. Considero-ne um católico não convencional, mas não com menos fluxo de fé que o fervoroso crente (aparentemente por vezes...) que segue de forma maquinal os horários e cadência dos ritos milenares impostos pela madre igreja. Respeito a forma do conteúdo e o conteúdo da forma, pelas quais os outros se regem nessa busca interior de fé, mas no entanto causa-me alguma confusão a forma como as estruturas de poder de cada derivação religiosa aplicam, por vezes, os seus fundos financeiros. Tomemos como exemplo o novo santuário de Fátima. Obra de monta e de relevo; esteticamente bem conseguida e com uma capacidade funcional para 9 mil fiéis sentados. No entanto foi construida com 80 milhões de euros de "esmolas" dos fiéis. Inaugurado com pompa e circunstância, parece-me óbvio ser um poco banal e analitico, mas ter que afirmar que é um crime lesa-humanidade gastar tal soma num templo, enquanto existem casos gritantes de desigualdade económica e social na lusitânia. A função da madre igreja (em qualquer uma das suas derivações) deve ser de alimentar espiritualmente os seus fiéis e devotos, mas também - factor nuclear - ajudara corrigir situações de necessidade básica como desigualdades sociais, situações de descriminação religiosa e outras. Mas no entanto, neste caso especifico, a igreja apostólica romana, continua a se alimentar de velhos dogmas em questões base como o aborto, casamentos homosexuais, a problemática da Sida e afins. Triste Deus que depende de cúpulas de poder que dimensionam a estética e uma pretensa adoração envolta em roupagens caras e opulentas, e esquecem que o ensinamento base da(s) fé(s) está no acto simples mas profundo de ajudar o próximo e como tal ajudarmo-nos a nós próprios a (re)descobrir de forma desconcertante que tudo se resume não ao nosso inicio e final de história individual e colectiva, mas tão somente ao trajecto entre esses dois pontos ocasionais que se tocam nas antipodas do devir existencial.
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