quinta-feira, julho 05, 2007

FILHOS DAS TREVAS (na visão de uma criança iraquiana)


A festa começa calma. O fogo de artifico laranja rasga os céus dando um brilho fátuo de tragédia estranhamente bela e anunciada. Nas ruas os cães correm cansados e pensam magros nas ossadas do destino.Numa qualquer casa esburacada, uma criança sonha alto pesadelos de cor pálida de morte e anseia por sonhos - pensamentos - banais de criança rebelde. Nas tocas os chacais uivam antes de sair na escuridão das trevas negras para recolher os despojos dos mortos-vivos.Soldados vestidos de crianças cortam pescoços e arrepiam caminho para um qualquer vale da morte. Os actos tragam as palavras vorazes em que o sangue é objectivamente vermelho mas corre disfuso e sem conhecer a essência do ser profundo. (Ressequidos) todos os dias abrimos a tela e vemos a morte em slow motion.Em Bagdad morre-se diferente do que em Beverly Hills. Em Bassorá morre-se como no Bronx, na luta diária pelo Santo Grall que corre seco e anunciadamente desalinhado. Mas que interessa isso quando temos o poder do zapping e mudar de canal, vivendo num mundo virtualmente irreal, em que somente uma criança sem rosto morre na lama de Bagdad?

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