quarta-feira, julho 18, 2007

CRÓNICAS DO IMAGINÁRIO (ou como a pedofilia é actual, factual e nada metafórica...)



"Num reino peninsular ele sorria no seu cárcere, prisão cómoda e sem a dor que tinha causado e inflingido, a visão de celas de ferro rude e austero representavam paradoxalmente a sua protecção e forma quase divina de fugir ao linchamento popular que lhe estava à muito destinado. "
Fim da narrativa
O guarda olhava para ele com desdém e vociferava calões agudos e estridentes que ecoavam por toda a ala da prisão. No entanto ele não entendia a razão de tanto alarido, revoltado pensava na exposição rude e cruel que os media lhe tinham dado tratando-o como um reles marginal e atroz criminoso. Sentia se injustiçado num pais que ,pretensiosamente, se assumia como democrático.
O seu coração só pensava em vingança, mas tinha temor por um juiz implacável e um júri cruel e ávido de ministrar uma pena exemplar. Tremeu, acendeu um cigarro banal que um desconhecido lhe tinha arranjado. Não tinha amigos e desconfiava de todos; o temor iluminava a sua tez pálida e sem vida. Era um homem de meia idade encarcerado, injustamente, pensava alto, falando só para si.
Não era um modelo de prosa mas começou a escrever o seu diário como o de um condenado à pena capital. Sim! Seria uma vitima pérfida da sociedade e do sistema judicial, e dos media, e dos políticos e de....não dos políticos não...
Se apodrecesse na prisão sempre poderia vender a sua história, como uma versão softcore do Big Brother a qualquer canal Católico e com valores morais e éticos nobres para as audiências, aquilo a que ele tanto ouvia apelidar de share.
Tinha o advogado que o dinheiro podia pagar mas pensava seriamente que aquele também poderia ser o seu carrasco e executor. Não confiava em ninguém e ninguém confiava nele; não percebia porquê, desabafou com a sua caneta nas folhas que tinha roubado do refeitório.
Por fim reconheceu que afinal não era tão inocente como isso, que poderia ter alguma culpa; que afinal poderia ter errado um pouco. Confiar naqueles homens...mas eles apenas queriam conhecer as crianças, as suas crianças, que amava que cuidava. Realmente era estranho aquela quantidade de dinheiro, "para facilitar", diziam os engravatados, porque as pessoas não iriam perceber, iriam falar, fazer alarido.
A sua caneta fugia da mão a um ritmo avassalador, freneticamente enchia de palavras estridentes a folha; não conseguia parar e calar a sua revolta, de um injustiçado de uma vitima do sistema.
O advogado chegou finalmente, era dia de julgamento. Alguns dos engravatados não o esqueceram e caridosamente ofertaram-lhe um fato novo para usar; "um gesto de boa vontade", disseram ao seu advogado. Estava sereno a justiça triunfaria e seria ilibado, pensou de forma apaixonada no seu intimo. Passou pela ala dos duros rodeado de três guardas, todos o olhavam em silêncio; até os presos mais rudes. Não percebia o porquê de tanta indiferença, seria um assassino? Pareceu ouvir alguém dizer " violador !".
Na porta do tribunal confusão, gritos estridentes da histeria da massa tresloucada, cams de televisão, microfones da rádio, canetas que pareciam adagas junto a seu peito - revoltou-se-
O juiz parecia um tipo simpático, o júri esse era austero. As mulheres com olhares de reprovação e os homens sem o mirarem de frente. Até um preto tinham colocado no júri – indignação - onde iria parar esta democracia?!
As sessões repetiam- se, ciclicamente, sem fim aparente, até ao dia em que em voz grave o homem de preto anunciou de forma seca a sentença: 8 anos. Oito anos?! Revoltado apeteceu lhe chorar, clamar justiça, mas o seu homem de negro garantiu lhe que com bom comportamento, e mais uma amnistia e mais...só cumpriria 2 ou 3 anos.
Suspirou por fim, afinal a justiça prevaleceu, e os engravatados decerto que não o iriam abandonar. Já não era um homem sozinho...

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