terça-feira, março 20, 2007

Dores Que Não Morrem


Corria o ano de 87 - quente e sereno - quando o vendaval se levantou de forma brusca no mês quente de Julho : O ZéZé tinha morrido. Uma morte anunciada antes de o ser. Uma batalha perdida ainda antes de ser travada. O Alfredo "Zézé" foi uma das primeiras "cobaias" a nível de transplante de coração em Portugal. Problemas crónicos que se arrastavam dentro de um corpo franzino e frágil no alto de 13 primaveras fugazes; mas com uma alma enorme e uma capacidade intelectual acima da média. Confesso : O ZéZé era o melhor de nós. Era - seria - o futuro médico, o futuro arquitecto; o futuro que ele quisesse construir com a sua imensa inteligência humilde mas ávida; discreta mas acutilante. Lembro-me de uma mochila azul horrível gasta pela erosão do tempo e da falta de dinheiro de uma familia unida e feliz, mas parca em recursos do vil e ditatorial metal que limita, castra e destrói imensas vezes objectivos e sonhos de gente humilde e com valor.

Lembro-me que a nossa turma era o 7º FF. Lembro-me também de espreitarmos o vestiário das meninas com uma ousadia respeitosa e enebriante de quem descobre o doce aroma do sexo oposto. A minha mente transporta-me também para uma pauta de notas - póstuma- na qual o nosso amigo foi de longe o melhor - como sempre -

Recordo-me de ter sentido vergonha das invejas mesquinhas que sentiamos da capacidade do Alfredo; da fúria, por vezes mal disfarçada, de sentirmos a dor aguda das suas perguntas desconcertantes no meio de uma aula banal e da sua avidez pelo conhecimento.

Se existe um qualquer lugar onde os bons encontram a paz merecida - uma paz viva em espirito - não tenho a menor dúvida que deves estar sempre a interpelar o criador mor pela sua borrada universal e seu mundo imperfeito. Certamente já lhe (com) provaste, com a tua inteligência calma e serena, onde ele errou. Timidamente - aparentemente - ele reconheceu na sua sapiência que afinal o mundo ainda tem esperança por contar com seres luminosos e ávidos como tu.

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