O final do ano apressa-se galopante com o cheiro comercial do natal do barrigudo irritante de barbas brancas. Altura (digo-o/escrevo-o pela enésima vez...) que me fornica a memória porque directamente penso em todos aqueles que já não estão comigo com maior plenitude de emoções fortes. Altura em que me lembro do pão de ló da avó Polidória (avó de alma que me criou até aos 5 anos); do cheiro do bálsamo de marinheiro de seu marido (obviamento o avô Tony) e da rispidez doce da barba branca por fazer quando me beijava. Altura de pensar na Irene, no "Tajano", no "vô" Correia. Altura de pensar porque o Luis se enforcou numa noite sombria de medos; no acidente que ceifou o "Cachola" na véspera de um casamento de sonho.
Altura de repetir a palavra "Altura" numa trepidação de memória; altura de desejar que os cheiros do passado se materializassem no presente galopante. Altura de pensar que retornarei ao meu Algarve para o recato quente do calor do colo da minha mãe. Altura para pensar alto e dizer na escrita que sinto saudades da mulher que amo, altura para pensar que tudo na vida muda e se reconverte, e tudo se altera no imprevisto das acções mútuas, dos momentos e dos rumos. Altura de dizer que não me submeto aos fatalismos nem cheiro o odôr da derrota que por vezes me ameaça (a todos nós).
Altura para rir para fora, chorar para dentro e dizer ao mundo feroz que estou pronto - mais uma vez - para lutar de olhos abertos com a sinceridade verdadeira de quem falha e de quem erra, de quem tenta... mas "o" assume não de olhos fechados como quando veio ao mundo, mas com os diamantes da visão abertos no acto simples de olhar "olho no olho" para todos aqueles que me estão na Faca d'Alma que me fazem continuar e acreditar que o mundo e as pessoas valem a pena.