Lembro-me da "descansada" da minha avó Irene falar da sua Mãe Sacramenta e na vez que foi presa por ter "dado nas trombas" a uma qualquer fútil aristocrata no tempo em que a fome era negra e a ditadura apertava. Vim de uma familia de lutadores, de "zés ninguéns" sem eira nem beira que conquistaram a tiros de raiva gentil um lugar na vida e na história do Algarve e Alentejo. Sempre cresci a ouvir as histórias doutros tempos, da fome, da luta; do combate contra a ditadura trocidante. Deliciei-me no festim dos heróis de minha familia, afinal histórias iguais a milhares de outras, de gerações perdidas e encontradas entre naufrágios que a vida nos faz e (re) faz.
Sim...era "isso" queria falar de naufrágios...das ondas do mar e a espuma a se desfazer numa noite sombria com violência amansando as areias de qualquer praia selvagem. Queria falar das lições que a vida nos faz viver e na capacidade que temos que possuir para manter o ar nos pulmões e resuscitar após cada braçada mal (na)dada e cada "pirulito" de água salgada que nos impingem pelas goelas adentro.
Afinal o que eu queria mesmo dizer sem floreados nem paneleirices excessivamente adornadas, é que não me importo de morrer, naufragar e voltar à vida por todos aqueles que me estão no fundo de um coração quente que nem a lava doida de um vulcão em erupção permanente.
Todos somos náufragos em procura constante de "algo". Temos é a liberdade de, na liberdade de nossos medos, escolher com quem naufragar e a causa adjacente por emergir.
Eu escolho sempre o amor que me faz saltar barreiras; amor vertido em chama acesa ,por exemplo, nos olhos verdes mais cativantes que jamais encontrei.
O Amor é "isso"...saber esperar sem desesperar, mesmo que...desesperando (um pouco..) nos possamos perder momentaneamente; com a segurança de saber que o tambor que rufa por dentro é mais forte que todas as barreiras que a vida puta nos traz.
Dedico este texto a uma doce náufraga (como todos nós) que admiro pela grande mulher que é, pela alma que carrega dentro de si; mesmo que por vezes escondida pelas agruras da vida.
Um dia parceira vamos chegar à praia juntos...
AMO-TE...
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