Observo duma varanda com vista para a Rua Santa Catarina, a descida de milhares de "Indignados". Tendencialmente, os movimentos cívicos (com e sem partidos...) sucedem-se acompanhando o destilar de medidas hitlerianas que nos fodem o bolso (a moral...) a todos nós.
Curioso, espreito os primeiros direct views televisivos que cobrem Lisboa e Porto, na vastidão de vozes roucas com berros de quem quer pão e razão. Pensativo, mecanizo no sentimento a revolta que nos corrói a todos perante o paradoxo deste (já) não pais à beira mar sepultado.
O governo assobia para o lado e justifica o "estado de sitio" da nação pela conjectura internacional e pelos erros do anterior governo de Sócrates. Tipicamente português o síndrome da culpa alheia e o sentimento usado para lavar consciências e pregar a moral.
Indigno-me no final do dia a circular entre cadáveres adiados (Fernando Pessoa dixit), com os passeios da baixa juncados de mendigos a dormitar entre mantas fora d'época. Indigno-me ao pensar nos milhares de compatriotas que já passam fome. Indigno-me ao relembrar que muitas mulheres já foram obrigadas a enveredar pela prostituição para darem de comer aos filhos.
Sem mais palavras, sem mais linhas. Arrepio caminho rumo ao metro e, curiosamente, a sensação de alivio por ser daqueles que ainda traz o pão para casa, é substituída pelo repúdio do estado a que esta "porra" chegou. Acendo um cigarro indignado e olho para o horizonte cinzento. Onde está o arco irís e o sol luminoso que os políticos nos prometeram?!
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