Nasci na típica Rua de São Luis em Faro. Entre prédios em construção e casas com chaminés algarvias em que as cegonhas petulantes faziam o ninho das estações; fiz tropelias e brincadeiras da idade da parvalheira estupidificante. Cresci perto das cooperativas (nome social para bairros positivos na minha consciência) em que as pessoas jorravam quentes e sinceras, sem tangas nem tiques de vedetismo. Já no Porto, vivi em Leça (do Balio) até adoptar um pequeno e confortável apartamento perto da "minha" Arca de Água. A 50 metros do bairro, na fronteira, fui penetrando. Entrei naturalmente e assisti a putos com brincos a crescerem, a serem tragados pelas grades das prisões da vida. Outros (não) tantos a triunfarem na dignidade da luta sofrida. Dou por mim a despejar o lixo de chinelos e calções com um cigarro no canto da boca. Em tronco nu encosto-me ao muro de pedra quente: Na entrada do meu apartamento suspiro. Afinal continuo a ser um puto de um bairro qualquer.
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