O presidente do Timor Leste e Prêmio Nobel da Paz José Ramos-Horta, ferido a tiros em um ataque na madrugada desta segunda-feira, encarna por três décadas a causa deste país pequeno e pobre, com seu talento e vocação de diplomata.Este poliglota foi considerado o herdeiro natural do chefe de Estado Xanana Gusmão, do qual ele é muito próximo, estando em todas as frentes para tentar reunir os timorenses, mergulhados em uma profunda crise. Nascido em 26 de dezembro de 1949, em Dili, Ramos-Horta - filho de um português e uma timorense - foi durante anos o incansável porta-voz internacional da resistência no regime indonésio, que ocupou o Timor Leste de 1975 a 1999. A sua carreira diplomática começou cedo, quando, aos 25 anos, ele foi nomeado ministro das Relações Exteriores do efêmero governo da Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin, marxista). Em dezembro de 1975, este regime tentou dirigir o Timor Leste durante dez dias, logo após a saída dos colonos portugueses. Antes que, neste mesmo mês, as tropas indonésias invadissem o território, José Ramos-Horta foi enviado para promover no exterior a causa timorense. Ele morou, então, dez anos em Nova York, onde descobriu uma paixão pelo cinema e o jazz clássico. O ex-jornalista se tornou um nome conhecido na ONU, organização na qual, sorridente, porém, firme, ele presidia a delegação permanente da Fretilin. Sempre elegante, com uma barba rala e de gravata borboleta, José Ramos-Horta tem passaporte português, como todos os refugiados timorenses que o solicitaram. Além disso, seu pai é português, enquanto sua mãe é timorense. É fluente em português, inglês, francês e tétum, a língua do Timor Leste. Onde quer que vá, não se cansa de denunciar o "genocídio" cometido pela Indonésia em seu país, para o qual ele pede a intervenção da comunidade internacional, com ou sem o mandato da ONU. Seus esforços foram coroados com o Prêmio Nobel da Paz 1996, recebido com monsenhor Carlos Filipe Ximenes Belo. Esta consagração lhe permitiu aumentar o alcance de sua luta pela libertação. Em agosto de 1999, o Timor Leste escolheu, por referendo, ser independente e Ramos-Horta retornou ao país em dezembro, após 24 anos de exílio. O diplomata continuou a ser a "Voz" do Timor e se tornou, naturalmente, ministro das Relações Exteriores, após a independência em maio de 2002. Ele apoiou os ataques americanos ao Afeganistão e a intervenção de Washington no Iraque, sendo criticado por isso, mas ainda assim a ONU utiliza seus talentos para missões delicadas, como uma mediação em Guiné-Bissau. O nome de Ramos-Horta chegou a ser cogitado para suceder o secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, que acabou sendo substituído por Ban Ki-moon. Em 8 de julho de 2006, ele sucedeu ao polêmico primeiro-ministro Mari Alkatiri.