segunda-feira, março 19, 2018

O meu (melhor) Amigo Pai

Policarpo era moço garboso, sangue na guerla no alto de olhos claros e cabelos loiros. Paulo nasceu com o mesmo espirito rebelde  de não submissão; não loiro e muito menos com olhos claros, a mesma essência de comunicar e parlar sem parar (que se revelou útil anos mais tarde...).

Policarpo  moldou-se nos tempos difíceis da austeridade da fome e da necessidade, da guerra colonial em que combateu por causas que não eram as suas; dos tempos do PREC, dos recibos verdes e da instabilidade política e emocional de um Portugal a (re)nascer com as dores de parto mal paridas.

Pai herói, melhor amigo de Paulo, prescindiu para dar, apoiar e acarinhar. Nunca se queixou dos sacrifícios, dos anos a fio com o mesmo calhambeque da idade da pedra, das vezes em que ter um filho a estudar fora do burgo pesava mais na bolsa do que qualquer rochedo de toneladas.

A vida seguiu e fluiu, ambos cresceram e amadureceram; lado a lado mesmo por vezes longe no contexto geográfico que dita a distância física mas nunca do sangue quente que varre o coração de quem ama e de quem quer bem, mais e melhor.

Ambos apressados, de olhos abertos sem esconder estados de consciência e de humores (bons e maus), ambos com fome de vida e de progredir, ambos com impaciência paciente de seguir, conhecer, amar e crescer.

Portugal mudou, morreram muitos dos mitos urbanos que nos agigantavam e nos davam a segurança que tudo iria correr bem. Perdemos Cunhal, Mário Soares, Eusébio, Sá Carneiro, Manoel de Oliveira, Zé Pedro e outros (muitos...demais...) tantos Pais da Nação.

Conheci países vários, vi  catedrais, percorri ruas históricas, embarquei em aventuras mil, perdi e ganhei empregos, amei, (des)amei, iludi-me e desiludi-me, tudo no ciclo da vida, tudo mudando com o vento das marés que percorre a subjectividade humana.

Nunca mudou o amor e cumplicidade com o meu (melhor) Amigo Pai...até hoje...até sempre...sempre e para sempre...




Sem comentários: