quinta-feira, novembro 18, 2021

"Na Corda Bamba"










"De coração cheio"
(Alerta: Texto excessivamente longo e lamechas.)

No dia 6 Novembro virei o cabo da boa esperança para as 47 voltas completas ao sol. Foram centenas de mensagens nas suas variadas formas nas redes sociais, uma enxurrada abençoada de telefonemas e a presença física ( no dia e véspera ) de pessoas que moram no meu coração .
A todos um sentimento de gratidão por me fazerem sentir imensamente amado .

"Na antecâmara das dúvidas"
Entre prendas, lembranças e mimos levantava se agora em mim o medo de uma cirurgia que aguardava ansiosamente há cerca de um ano e meio.
Foi assim um aniversário bom e preenchido mas com o pensamento na antecâmara da tarde de 8 de novembro onde uma ida ao ambulatório do CICAP removeria uma catarata (que se revelaria perigosa, traumática, "madura" e altamente inflamada).
Como muitas coisas na minha vida não poderia ser assim tão simples e evidente. Por aqui não existem facilitismos e até no karma da rotina surge sempre algo inesperado.

"Da escuridão á Luz "
O check in borrado de dúvidas, um atendimento de excelência humana e profissional em todo o serviço de oftalmologia Santo António, levou me a uma estranha calma.
Troca de roupa pela bata da praxe, início das hostilidades com gotas de anestesia rotineiras, um cateter colocado á primeira tentativa nas veias salientes e a espera começa...
(metade do pessoal de enfermagem de oftalmologia tem sotaque quente transmontano e isso foi reconfortante)
Troca para uma maca numa sala mais resguardada , mais anestesia nas veias, tubos no nariz para mais um aroma de relax...mais...mais e mais ..
Voz suave da anestesista ...agulha 6 cm abaixo do olho ..."para você ter poucas ou nenhumas dores...vai demorar mais um pouco ... 15 ou 20 minutos para fazer efeito".
A adrenalina dispara um pouco mas a pressão do medidor arterial e das ventosas para o ritmo cardíaco, dão me sinal mental para não me cagar nas calças e ser forte e determinado...estou ali para não f...a vida a quem vai tentar tratar de mim.
Assim Seja Assim Será
Nova volta rápida para o bloco operatório (isolado)...um formigueiro com sete elementos com simpatia desarmante e a preparar o procedimento . Olho "bom" tapado, o danificado só vê sombras e já altamente sedado. Cabeça ligada entre um molde para mexer o mínimo possível e a dança começa.
Olho sempre húmido com a voz firme da Cirurgiã de serviço ( firme, profissional e empática no vigor dos trintas e poucos especulo).
Uma hora de ansiedade com a calma com que as drogas nos tomam e a firmeza superlativa nas vozes mesmo quando quase tudo foi diferente do expectável ( existem interjeições que ficam no templo sagrado do bloco operatório assumo firmemente). Ao longe ouço música baixa talvez resistência e heróis do mar...talvez seja uma alegoria do meu imaginário...talvez...
Tudo acaba em trinta segundos (começou há 1 hora fora a panóplia de preparo anestesista com mais sessenta minutos...) implante do cristalino feito, catarata removida.
Rapidamente passo para um sofá azul com rodas sólidas....visível a satisfação de todos corporizado na voz firme da Cirurgiã que extenuada mergulha no sofá encostado á parede branca do bloco e no carinho de alguém que me quer colocar rapidamente a comer bolachas e a beber um chá quente e aromatizado com esperança.
Solto um obrigado cansado mas sincero e sou empurrado para um canto confortável onde uma das anestesistas me chega o almejado chá enquanto que nas minhas mãos já caminham bolachas Maria ( eterno clássico tuga) rumo a um estômago esburacado ( estou sem comer e beber desde as 09 da manhã...são agora 18 e 53).
Visto me o mais rapidamente possível já com a Fernanda vigilante á minha espera e o João no carro preparado para zarpar e preparado para me levar a casa.
( Todos os que me deram força foram transbordantes mas os meus pais, a Fernanda e o João foram heróis decisivos na paciência e ânimo que me transmitiram e apoio prestado).
Alívio, alegria ( sinto me verdadeiramente feliz), e uma vontade de chegar rapidamente a casa para me afogar num abraço aos meus pais e devorar avidamente comida quente e apetitosa rumo a um descanso eufórico.
"Tinha tudo para correr muito mal...acabou tudo por correr muito bem"
Três dias com luz e visão em crescendo...rumo mais calmo a consulta no salão Neo clássico do Santo Antônio.
A simpatia já expectável ( agora com sotaques tugas e africanos com a mesma doçura açucarada e cuidado).
Exame rápido e medição das lentes para os óculos. Consulta com a Dra Luísa (a Cirurgiã obstinada e que galgou o imprevisto de última hora com mestria e gosto pelo desafio apresentado).
Reforço de gotas, prescrição de comprimidos e a mesma voz firme e empática : "Tinha tudo para correr muito mal...acabou tudo por correr muito bem".
( Mais uma vez refaço o código não se conta tudo o que se ouve no bloco, não se revelam todas as palavras de uma consulta pós cirurgia).
Esperança na recuperação e mais uma dança no dia 6 de Dezembro.
Como em muito na minha vida... alicerçado na fé na esperança...na superação e resiliência.
Nunca sozinho...nada sozinho... absolutamente acompanhado... absolutamente e radicalmente amado.
Tentarei sempre que a esperança da (na) minha alma seja maior imensamente que o somatório dos meus medos.

De dentro de mim para vós

Paulo Correia

quarta-feira, junho 09, 2021

Posing Act

 




|Mini break at lunch time (com a surpresa bem positiva de rever um velho amigo)|
Seguimos juntos e com esperança neste tempo sem tempo lutando por dias melhores que já estão aí ao virar da esquina.

quinta-feira, maio 13, 2021

Conversas na Praia (made in mothers day)




Seria bastante banal (mas real 😁) destilar umas palavras escorreitas a mencionar que a minha Mãe guerreira é a melhor matriarca de todo o universo mas prefiro contar vos uma pequena história... ...na véspera da minha partida para o Porto rumo á faculdade e a mil sonhos por realizar, recordo me de estarmos os três ( Mãe, Pai e eu) sentados no areal da Praia de Faro a contemplar o Mar em silêncio quase absoluto, somente interrompido pelo barulho das ondas a morrerem nos grãos da areia sem tempo.
Medos e receios, altura de conjetura não muito favorável no contexto econômico para nós por factores que me recuso a acrescer aqui em palavras ( existem coisas que morrem connosco e que o tempo encarrega de sarar); a minha Mãe quebra subitamente o silêncio e diz me olhos nos olhos "meu filho um dia de cada vez, o que conseguires dia após dia será uma vitória"...
Nunca me esqueci do sentido destas palavras que somente nós os três percebemos na íntegra. Ainda hoje tudo o que fui conseguindo no prete á porter da vida não é fruto de uma falsa humildade ou de uma sensação de inferioridade ou submissão perante ninguém...o que a minha Mãe me quis dizer naquele final de tarde algarvio foi que dia a dia, grão a grão, sonhando e lutando diariamente podemos indo somando vitórias "pequeninas" que se traduzem numa glória mais saborosa e conseguida.
Nunca nos vergarmos, nunca nos rendermos, nunca deixarmos de lutar por um amanhecer melhor e nunca mas nunca deixarmos os sonhos morrerem dentro de nós ... Para ti Virginia Correia ♥️ que és o melhor do que trago dentro de mim um Amo te profundo por tudo o que o tempo não apaga: Como uma frase num final de dia fez de mim o homem que hoje sou...
Do teu Paulinho 💪🙏❤️

sábado, abril 24, 2021

24 (do nosso Abril)

 




Nasci em 1974, ano numérico da revolução do nosso contentamento de sair das entranhas de um obscurantismo totalitário em que a miséria dos três efes (fado, futebol e Fátima) ditavam as regras com que os pastores regiam manada.

Sou fruto desse amor por Abril, de uma mulher simples mas forte e decidida que trabalhava numa fábrica de cortiça detida por um alemão e onde inconscientemente se fez uma das primeiras greves solidárias em Portugal  por uma funcionária grávida à beira da exaustão. 

Também a seiva rebelde de um homem inquieto mas leal que preferiu combater numa guerra que não era a sua do que renegar o amor e presença daqueles que lhe aqueciam o coração. 

Ironicamente (e sortilégio feliz) os meus pais casaram a 27 de Abril do ano da revolução dos cravos pelo registo civil numa cerimónia simples, num ano onde um maravilhoso mundo novo parecia nascer.  Nunca acharam pertinente a bênção da madre igreja independentemente da sua fé enraizada num deus de tolerância e liberdade que também adoptei por meu. 

Nasci desta mescla, misto do desastre de um período de dores pós coloniais, extremismos de direita e esquerda mas também do milagre do rumo desarrumado avançando para  um mundo livre com acesso à esperança de um amanhecer melhor. 

Podemos voltar sempre ao fado fatalista que Abril não se cumpriu, que o sistema político não funciona e que os Sócrates e Salgados desta vida geraram o descontentamento com que se pariram  os demagogos do Chega encabeçados pelo vendedor da banha da cobra  barata que dá pelo nome de André Ventura. 

Prefiro alinhar de ânimo livre que mais vale uma democracia com assimetrias gritantes pela qual vale a pena lutar do que uma ditadura cinzenta com o nacional seguidismo de um rebanho envolto na mansidão letargica de uma noite sem fim. 


Nota final:Como homem de esquerda custa me "engolir" o veto com fraco pretexto que os organizadores das cerimónias oficiais vetaram a IL... esperava muito mais do coronel Vasco Lourenço... 











quinta-feira, fevereiro 25, 2021

"A Falta dos Afectos que Mora em Todos Nós"

 Uma das novas realidades que a pandemia que nos açoita a todos me tem revelado no dia a dia tem sido a carência afectiva óbvia e evidente que mora em todos nós sem excepção.

Como assessor de comunicação da Sopro de Carinho Associação e com um contacto diário com dezenas de doadores individuais e empresariais, as conversas arrastam se agora para um campo mais pessoal e de mutualidade compreensiva.

Com mais de vinte anos de trabalho na área global da comunicação, sempre considerei uma das chaves base do sucesso de cada projecto o trabalho de equipa e respeito pelas individualidades dentro do colectivo, bem como o "acesso" ao factor individual de cada cliente, fornecedor e parceiro de negócio.

Há já uma década a trabalhar na área do marketing social na componente infantil e pré adolescente para mim é impossível não existir um envolvimento afectivo forte com todos os que directa ou indirectamente contribuem para o meu (nosso) trabalho.

Já atravessei (atravessámos) fases com nuvens e sombras com o expoente a ser a perda da primeira Criança ligada aos apoios gerados na Associação. Sensação de murro no estômago e de impotência colectiva que nos deu (ainda) mais força para continuar mesmo na dor mitigada de uma perda que considerámos como um dos nossos.

O novo confinar das nossas vidas pessoais e laborais leva-nos inevitavelmente para o (re)pensar o somatório dos nossos medos quotidianos, inseguranças e zonas menos seguras.  A falta de um café entre amigos, um vinho aromatizado em cada rosto conhecido, bem como o odor do nosso escritório de sempre e os cheiros de quem o percorre, são alguns dos bons momentos que nos dão segurança para transpor a insegurança diária.

A falta dos afectos mora mesmo em todos nós...por quanto mais tempo?!


segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Em Roma...

 



Em Roma...no início de uma viagem com requinte de suspense desde o primeiro dia ( ou como podemos transformar uma situação menos boa em algo positivo)...basicamente o pior hotel de sempre 😁 ( cuidado com a publicidade enganosa 🇮🇹🍝).

terça-feira, fevereiro 09, 2021

A Dualidade que nos Mantém



 Lembro me há alguns anos atrás de uma queima das fitas memorável em que fiquei alguns dias sem falar com os meus pais (eu no Porto, eles no Algarve). O Vareta recebeu uma chamada da minha Mãe, preocupada pelo telemóvel sem bateria permanente, e transmitiu-me a mensagem passados três dias (!!!) do final de mais uma semana de todo o contentamento da puberdade quase adulta onde o deus baco e a alegria da imortalidade efémera imperava.

O tempo do tempo indiscutivelmente muda-nos. Não há dia que não fale com os meus pais meia dúzia de vezes, entre telefonemas e chamadas de video, entre conversas profundas e tiradas de humor, entre emoções sempre fortes e intensas.

A vida muda não os sentimentos (quando são daqueles bons e que nos aquecem o coração) mas transfigura a forma como corporizamos a presença e o amor por aqueles que por vezes não estão tão próximos como desejaríamos a nível geográfico.

Somos todos independentes, viajamos até paragens longínquas, corremos mil (des)aventuras, mas existe sempre aquela dualidade que nos mantém: "Olá bom dia meu filho"...tão bom...sempre...para sempre...mesmo que saibamos que o "para sempre" um dia habitará somente o nosso horizonte de memórias mas que nos empurrará  para a frente.

quarta-feira, fevereiro 03, 2021

"Até que as Urnas nos Separem" (parte I)

 Optei por fazer um compasso de espera para destilar mais a frio algumas linhas soltas (mas ponderadas) acerca das presidenciais made in 2021 (com selo covid) em Portugal.

A par da vitória mais que esperada do "candidato de todos" (tantas foram as colagens ao sucesso de Marcelo...) o fenómeno preocupante centra se na direita extrema e populista que ás costas de Ventura galga meio milhão de votos e ameaça a práxis democrática, dando azo a uma direita oca e de extremos bem perigosos e demagogos.

Por mais que possamos analisar a derrota comunista e bloquista, o segundo lugar de Ana Gomes (saberá aproveitar o seu score no futuro próximo?), e as votações interessantes do candidato da iniciativa liberal e até de Tino de Rans (mais de cem mil votos...); tudo resvala de como foi possível um candidato oco, demagogo e alicerçado em fontes de financiamento no mínimo duvidosas, ter ganhado terreno no campo democrático.

Das duas uma: Ou estamos a assistir a um voto de protesto desesperado em que o medo, raiva e afins triunfaram e desmontaram a total deserção do sistema politico vigente que não responde ás expectativas geradas (esperadas) ou estamos num pais que algum fascismo encoberto durante décadas afiou as facas longas e ganhou coragem para finalmente ter um partido que corporizasse a sua forma redutora e radical de encarar o modus vivendi individual e colectivo.

Gostava como democrata e filho da democracia de Abril que fosse apenas o desespero a resposta para esta radicalização, mas temo que a resposta seja bem mais vasta e preocupante...retomarei o tema brevemente...




terça-feira, fevereiro 02, 2021

"73 Road" (and going...)



Que dizer? Tanto já foi escrito no papel e nas páginas da vida, tanto já foi ( e é) sentido diariamente...o meu melhor amigo Policarpo ( "por acaso" meu PAI) faz 73 anos de pura rebeldia, bom humor e alegria alegre de se alegrar com as pequenas grandes vitórias da vida...Um abraço do tamanho do mundo e um beijo com o AMOR que nos une (aos três pois somos indissociáveis e indivisíveis)...Amo-te com a fúria da nossa rebeldia ( que herdei em muito de ti...ainda bem que a Mãe acalma isto tudo com o seu olhar imenso😉😊)...agradeço te do ♥️ tudo o que me tens dado sem nunca pedir nada em troca. ...do teu puto Paulinho🙏

Me & Maria

 




|Me & Maria numa foto made in Sopro De Carinho  
(como o tempo escorre entre os dedos...)|

quarta-feira, agosto 26, 2020

O Inferno do Nosso Céu




 A nossa vida prévia era perfeita e nós não sabíamos (ponto afirmativo absoluto e sem discussão).


Esplanada cheia, com copos agudos de líquidos vários, risos estridentes intercalados por vozes múltiplas no orgasmo de uma noite de convívio. Na Tv as noticias habituais, formatadas na tendência global de um mundo sempre a explodir na torre de Babel da não tolerância.

Um tema comum introduzido quase á surdina toma forma de zumbido crescente: Um vírus misterioso nasceu na gigante e longínqua China. Noticia quase de rodapé mas repetida na exaustão intuitiva que algo se aproxima para inquietar almas e alterar comportamentos. 

Está um calor anormal em Fevereiro numa qualquer noite onde vivemos numa falsa sensação de segurança, em breve tudo mudará numa onda de choque que irá varrer o globo de forma impiedosa e ditará os passos que transformarão as nossas vidas colectivas para sempre.

Entre as teorias da conspiração e as origens de um mal enigmático, dormitamos num sono inseguro que nos afastará do mundo tal e qual o conhecemos e intuímos. Brevemente apartamentos e casas se transformarão em locais de isolamento laboral e pessoal. Termos como "confinamento", "quarentena" , "teletrabalho" (trabalho remoto) se unirão ao impacto de "corona vírus" (mais tarde "covid19).

Os gigantes económicos que ditam os nossos passos no dia a dia absorvem-nos com uma benevolência falsa com o slogan dos vendedores da banha da cobra: "Paguem (um pouco) mais tarde" afirmam.

Em cada lar uma fortaleza, em cada alma a inquietude da saudade, em cada olhar o medo flamejante do gelo do futuro outrora certo.

Poderíamos vociferar que este é apenas mais um ano, mais um vírus, mais uma barreira (invisível), suspirar num optimismo de que "tudo irá ficar bem" mas lá no fundo da nossa alma inquieta sabemos que nada será como outrora no antigamente de um passado sempre presente na memória.

Tão somente vivenciamos o Inferno do Nosso Céu...apenas não o pressentimos a tempo...




segunda-feira, junho 01, 2020

A Criança (que ainda há em mim)


|A Criança que há em mim ainda não morreu...que desapareça apenas no meu último sopro...aos meus Pais com as saudades que me doem bem forte  de não os ver há mais de 4 meses.. .aos meus amigos á minha família. .  pela alma daqueles que desapareceram nos últimos meses no meu Faro de nascimento. ..chorei os mas não me pude despedir fisicamente e dar um abraço aos que ficaram...|Sejamos hoje e sempre Crianças na pureza dos nossos actos e sorrisos|

#pensamentos #diadacrianca #sentimentos #amor

sexta-feira, maio 01, 2020

Diário de um Quarentão (em "quarentena") Parte III



A varanda novamente como companheira num dia que amanheceu tardio com nevoeiro britânico e chuva fugidia mas cíclica no seu eterno regresso. Portátil no colo anichado, os pés do costume (despidos) com a alma cheia de pensamentos (o isolamento momentâneo da pandemia faz nos pensar "mais  e mais vezes").

Divido hoje a escrita  em pequenas gotas soltas que gravitam entre o Abril que marca a  minha (nossa) história, o Maio da libertação (será?)  e as anotações de um futuro que terá raios de sol no meio do nevoeiro cinzento e da chuva restritiva (no final prevaleceremos adianto já...)



1.

"O Maio do nosso (des)contentamento"


Dia de todos os que labutam e lutam nesta vida por vezes repleta de barreiras...dia do trabalhador mas também do combate às assimetrias das crianças ( os trabalhadores do amanhã...muitas infelizmente já trabalhadores do hoje...) . 



Data de todos aqueles que ainda recebem o chicote da injustiça global, que em tempos de pandemia a histeria e a prepotência não ganhem...ganharmos todo unidos na fé de uma nova versão humanista em que o "nós" se sobreponha ao "eu" hedonista (egoísta).



Maio marcará o (re)inicio dos nossos pequenos passos para uma (a)normalidade que tenderá a ser diferente e com muitas dúvidas e incertezas.


Os medos que antecedem a antecâmara de novos tempos marcarão o nosso novo gatinhar. Que as fake news, populismos dos ditadores (eleitos ou não...) e a cultura maldizente do "bota a baixo" não vingue e que aprendamos com estes tempos de incerteza...na certeza que para sobrevivermos social, económica e politicamente teremos que reconstruir e reescrever novos conceitos.

2.
"Abril revisitado"

Nunca a porra de um período de trinta dias me pareceu tão longo e custou tanto a verter tempo não sorvido nem saboreado com os padrões de carga emocional normalizados, no entanto nunca os telefonemas e video chamadas me pareceram tão bem, nunca um copo de vinho foi tão lentamente saboreado ou as emoções delgadas se transformaram muitas vezes em olhos marejados de agua húmida mas temperada com um quente arrebatador de sentimentos por vezes antagónicos.

Abril do nosso contentamento nacional da democracia que o dia vinte e cinco trouxe e arrebatou, da minha satisfação pessoal de ao longe sentir ao perto os quarenta e seis anos que unem os meus pais na aventura de uma vida (casaram dois dias depois da revolução dos cravos de setenta e quatro). Abril de sentimentos mil...Abril longo...estupidamente longo...Abril diferente...Abril maldito...amaldiçoado mas para recordar no horizonte das memórias que nos fazem crescer por caminhos inusitados.


3.

"O futuro já hoje"


Mudo o portátil para a posição de repouso, derramo um telefonema rápido com um amigo de longa data, inspiro e retenho o olhar no céu com nuvens e com a ameaça de mais uma carga de água que invadirá o meu jardim e que rapidamente ganhará espaço no chão despido da varanda de pedra branca apenas manchada pela naturalidade das folhas velhas e ramos quebrados arrastados por um vento diferente que se revela desde o último cigarro fumado na madrugada após mais uma sessão de cinema tardia fruto da falha do sono reparador de mágoas e elixir de novas esperanças. 



Tenho encarado esta porra toda dos últimos meses o melhor que sei e que posso; chorei amiúde, ri me também muitas vezes mas essencialmente reforcei laços e (re)conheci-me melhor como pessoa e como ser humano. Incapaz de me fechar na minha concha, estendi a minha mão sedenta e muitos retornaram-me o acto (misto de medo e coragem) sem dramatismos apenas com a naturalidade de quem precisa do "nós" para poder sobreviver (viver) no "eu" (todos nós).



O futuro é já hoje, no meio das pedras e rochedos, do negro do espectro do desemprego, na ansiedade do exemplo (por exemplo) de um pai e duma mãe com as incertezas que estes novos tempos ditam; tenho a convicção na minha tranquilidade (absolutamente humana, não tranquila e corajosamente borrada de medos e incertezas) que sobreviremos entre a penumbra que teimará em nos querer cegar e que o sol, a areia fina e o mar sem cor serão o nosso futuro.



Portanto borrem-se de medo, encham-se de dúvidas e receios mas caminhem em frente entre escombros e ruínas nascerão novos alicerces que nos permitirão (re)conquistar o futuro. Estejam atentos e não servis, receosos e prudentes mas sem medo de arriscar e caminhar. 



É assim que traçarei meu trajecto, e é assim que os meus pés descalços na varanda ficarão molhados com a  chuva mas se alimentarão do sol e da alma que os iluminará rumo ao caminho do amanhã....

domingo, abril 26, 2020

Flower(s) Power




|E quando tens uma vizinha octogenária adorável que perde tempo a cuidar do teu jardim ( e das tuas roseiras) e te presenteia com rosas perfumadas e te chama "homem lindo"( ou menino😂😂😂)|

❤️🙏🌹🌹

sábado, abril 25, 2020

Simplesmente...Abril




|O Abril do meu contentamento...que me permitiu ser a criança feliz que fui, o homem imperfeito ( mas com direito e liberdade às minhas falhas e diferenças) em que me tornei| O 25 Abril de 74 que desaguou no 27 do casamento de meus pais e no Novembro livre do meu nascimento| Grato a todos os que se uniram e na madrugada fria marcaram a nossa vida com o sol da esperança e quebraram as grilhetas com que as bestas negras nos aprisionavam |Nestes tempos difíceis Caminhemos á esquerda, centro e direita mas sempre unidos rumo ao futuro...em linha recta e sempre atentos às sombras populistas 
( tendência global) que se alimentam do medo e do desespero e ...25 de Abril Sempre!!! 24 antecedente nunca mais!!!|

quinta-feira, abril 23, 2020

Diário de um Quarentão (em "quarentena") Parte II





Chuva com gotas lentas e escorridas que morrem em ondas curtas de sol forte e pleno no tempo (do tempo sem tempo) que custa a passar. O mês de Abril tem trezentos dias e trezentas noites, com o comprimento de um qualquer muro interminável no qual fixamos o olhar e nos sentimos derrotados á priori (o caminho faz-se...escalando...não?!).

Um caracol corajoso agarra se á parede gasta da minha varanda (do meu refugio ) e com o seu ritmo não frenético abriga se no seu escudo natural ao sentir a curiosidade canina do Beiças. Todos nós procuramos (nestes tempos estranhos e difíceis) santuário seguro e refúgio salvador para podermos fugir aos medos e angústias que nos assolam.

A tarde passa...mas não o caracol...firme e resistente prossegue (persegue) o seu caminho firme, lento, sem desvios. Talvez nos falte isso a nós humanos: O firme caminho da resiliência sem nos desviarmos um milímetro da meta (rota) traçada.

Não resisto de adulterar o destino...pego com cuidado no meu lento novo amigo, altero a trajectória e vicio o jogo. Agora o santuário animal da lentidão está num vaso da minha varanda no meio do verde rotundamente verdejante, mesclado na terra húmida e forte, negra como uma noite escura sem estrelas que pintem o céu (no meio do negro irromperá a esperança).

Longos dias tem Abril e este não ano da nossa (re)descoberta; sim...não não irá ficar tudo bem ou igual, nada será como o amanhecer da esperança de janeiro nem como os ciclos das renovações  firmadas num qualquer pacto de objectivos anuais.

Cresceremos entre a chuva e o sol, entre as gotas que caem do divino ao qual nos agarramos e o calor arrebatador  que nos dá a esperança do escoar  destes tempos com tempo a mais.

Trago a última gota de vinho alentejano, apago um cigarro profundo e olho pela última vez pra um qualquer caracol forte e firme que viu o seu trajecto subvertido (com a melhor das intenções). O Beiças vem me tranquilizar docemente entre quatro patas de carinho e afecto sincero no seu olhar profundo. Acho que me quer apenas latir no seu dizer de que não ficará tudo bem mas no inicio no meio e no fim o AMOR (com letras garrafais) sem fronteiras, os beijos e os abraços triunfarão. 

quarta-feira, abril 22, 2020

Dia (da) Criatividade





|Hoje é o dia mundial da criatividade...ser criativo é agitar as águas, ser provocador e marcar a diferença seja nas palavras escritas, nos odores visuais e nos formatos das mensagens...| A todos nós que criamos um Carp Diem com a provocação devida 🤭😉🤔💡|
👆🇵🇹👇🇬🇧
|Today is the world day of creativity ... to be creative is to shake the waters, to be provocative and to make a difference in written words, visual odors and message formats ... | To all of us who created a Carp Diem with due provocation 🤭😉🤔💡 |

quinta-feira, abril 16, 2020

Diário de um Quarentão (em "quarentena") Parte I




Tempos estranhos estes que vivemos no enredo de uma pandemia (infelizmente tão previsível) neste mundo globalizante em que voamos todos os dias a uma velocidade vertiginosa sem tempo, muitas vezes, para pensar, tão somente para agir (reagir).

No meio dos "quarentas" vejo me confinado (como milhões) a um exílio forçado e á limitação de acções e livres arbítrios que eram dados como adquiridos com o selo de  propriedade absolutista de cada um de nós.

Os actos (outrora) banais das rotinas do dia a dia tornaram-se na sua remodelação pandémica uma força libertadora á qual me agarro como o ar precioso que todos nós respiramos. Ir comprar pão quente e fumegante, passear o Beiças para as necessidades caninas básicas ou fumar um cigarro rápido a olhar para o céu do futuro incerto, parecem-me manjares dignos de qualquer deus do Olimpo terreno.

A vida tal e qual como a conhecíamos foi suspensa momentaneamente, nas redes sociais do nosso (des)contentamento derramamos as fotos de almoços e jantares passados, de viagens majestosas e de grupos de amigos e famílias inteiras desfeitas fisicamente qual muro de Berlim universal (ou grande muralha da China...) que nos emparedou a todos.

Ao final da tarde fria e chuvosa a libertação da varanda e do jardim; leitura lânguida e atenta  devorando um cigarro lento como o tempo congelado dentro do copo de vinho encorpado pelas nuvens que passam. Pés nus no chão frio mas a alma vestida com o sentimento forte que voltarei a trajar as roupagens de um passado recente onde nos tocávamos , beijávamos  e se partilhavam copos e afectos no cheiro e odor da presença física e quente daqueles que iluminam o nosso mundo.

sábado, abril 11, 2020

Eanes: O Último dos Moicanos

Recordo-me dos meus primeiros aromas políticos ás "cavalitas" de meu Pai (e pela mão sábia e carinhosa da minha Mãe) e do mítico cinema ao ar livre de São Luis onde vislumbrei Maria Lurdes Pintassilgo ao vivo e a cores no inicio da década de 80.

De miúdo imberbe e curioso com toda a plástica do mise en cene envolvendo a política e seus intervenientes, passei para a pré adolescência rebelde onde no cinema Santo António vi as lágrimas de meu Pai no entusiasmo de fé desesperada e emocional  perante a  derrota eminente de Mário Soares (um guerreiro) VS Freitas do Amaral (um cavalheiro) em oitenta e seis.

Cresci na esquerda da esfera das lutas democrática e plurais de grandes figuras com a sedução pelas  suas imperfeições hiperbólicas e das suas virtudes morais e de combate (figuras de esquerda, centro e direita note-se...).

Ramalho Eanes representou sempre para mim a verticalidade, o poder de liderança pacifica e a capacidade humanista (ironicamente não militarista...) de unir pontos aparentemente díspares da sociedade portuguesa pós vinte e cinco de  Abril.

Sempre analisei este General sereno com um ar (falsamente) austero como alguém fora da órbita partidária tradicional e de todas as guerras (muitas de alecrim e manjerona) dai adjacentes. Figura consensual para muitos, odiado ora  por uma  certa esquerda mesquinha presa no tempo passado  recente do 25 de Novembro (e não só...) e por um centro/direita com o pudor de um conservadorismo (quase) saudosista do salazarismo bafiento; Eanes imperturbável seguiu o seu próprio caminho com a serenidade (leia se seriedade) somente ao alcance de alguns.

Tudo desagua na recente entrevista (para quem não visualizou link aqui) na RTP 1 em que a frase emocionada em que menciona que sendo um "velho" tem obrigação (ele e os "outros") de ceder o seu ventilador, se necessário, a um "homem com mulher e filhos".

Assisti com atenção a criticas construtivas, a não concordâncias bem fundamentadas mas também a um chorrilho de asneiras de pseudo iluminados tentando dar um sentido bem diferente ás palavras emocionais e sábias de Eanes (a meia hora de entrevista para mim é uma ode de inteligência de um grande Homem).

Para mim Eanes merece um titulo de filme de sucesso: Certamente o "último dos (bons) moicanos"....








sexta-feira, abril 10, 2020

Casa...






Nesta época reflexiva onde a pandemia nos afasta mas nos aproxima, onde não nos abraçamos ou beijamos mas reforçamos desejos dos afectos daqueles que no enchem o coração.
Páscoa...renascimento...com ou sem fé no divino, uma altura para reflectirmos e termos a religião fervorosa do amor ao próximo e a nós mesmos...
Afastado fisicamente mas não no espirito e ligação do Amor que me une a muitos, simbolizo o desejo de uma Páscoa em plena paz e tranquilidade com um pequeno bloco de fotos...os meus Pais (este Ano longe fisicamente mas sempre perto do Coração), uma mesa passada que será brevemente o futuro renascido do reencontro...o Beiças fiel amigo que nestas semanas tem sido o meu guardião e o meu frigorifico...sim...o meu frigorifico...marcado pelas viagens que já fiz e simbolizando as que ainda irei fazer depois destes tempos que todos JUNTOS iremos superar
Para todos abraços e beijos na virtualidade que nos afasta momentaneamente mas que brevemente nos unirá na realidade desta aventura chamada VIDA.