Virginia não me para de supreender no alto profundo das décadas grisalhas que passam na sua vida plena e preenchida.
Decidida e tranquila, mulher de fé (com fé), força inquebrantável qual rochedo forte adoçado pelas planícies verdejantes do alentejo profundo...profundo o olhar que deita ao mundo qual pêndulo consensual de todos que fazem parte da sua história.
Cresci num seio familiar equilibrado em que o amor quente e verdejante sempre me ajudou a progredir e a ver (ambicionar) mais alem. Herdei a curiosidade aguçada da Virginia e o gosto pela leitura bem como alguma da sua sensibilidade profunda de quem sente tudo com intensidade hiperbólica.
Do Policarpo (José) herdei a explosão forte e a frontalidade vertical que procuro empregar na vida, muitas vezes com disabores (dores)...mas não poderia ser de outra forma.
"Não vergar e não tombar", sempre foi para mim um conceito pré adquirido de que, apesar dos ventos e das quedas, seria (será) sempre possível seguir, alterar e progredir. Não..não me esqueço do que bebi no seio materno da minha idade insípida em que tudo era fácil, quente e com protecção de uma capa de amor infinito.
Devaneio lentamente, acendo um cigarro rápido, dou duas passas longas e fumegantes no pensamento no qual mergulho...muitas histórias me percorrem mas sempre com as mesmas palavras inebriantes na mente, qual chamada para a realidade sonhadora: Não me vergo mesmo que abane, não me deixo tombar mesmo que vacile.
No dia da Mãe pude, pela primeira vez nos últimos anos, contar com a presença física da minha Virginia bem perto de mim...incrível como a vida nos faz retornar ao desejo e anseio das sensações de segurança simples mas tão nucleares no prete a porter do nosso dia a dia.
Para mim (como o fiz há bem pouco tempo) é bem mais fácil falar (escrever) acerca do meu Pai ("meu melhor amigo pai"). Quando procuro (re)definir palavras - procurando fundamentar o meu sentimento profundo pela Mulher que me deu (dá) muito sem muito receber em troca - é me quase impossível florear em palavras o que se mede e transmite num tom de voz, num gesto, num olhar.
Afinal o que conta é a essência do que se sente e ter sempre presente "Não vergarás...Não Tombarás"...a minha Mãe, doce mas firmemente, ensinou me assim...