Weeding in the sand... 😉
Tina Turner a "Mrs Hot Legs" foi a heroína de muitos (eu incluído) no escalar para a fama através duma história sofrida, subindo pulso a pulso, pé ante pé de forma decidida qual furacão com uma lógica de trabalho brilhante e superlativa e com a mística somente ao alcance de alguns.
A qualidade marcou a diferença desta diva mítica ( e mística) do rock & soul que constitui um quadro de referência no panorama musical global.
See you around because dear Tina we always need a another Heroe ( like you)
Guardo as memórias visuais e olfactivas dos caracóis a cozer no lume forte e tragados com a convicção do dia da liberdade. Seguidamente descia com os meus Pais para o verde vivo da alameda em Faro onde o vermelho dos cravos se cravava no sorriso convicto estampado no rosto da liberdade de cada um.
Sou um dos filhos da liberdade, daqueles nascido no bom ano de 74 onde a ditadura colapsou e o romantismo determinado de alguns deu a liberdade aos muitos presos às grilhetas do obscurantismo e da corrente única do rebanho amordaçado e obrigado a seguir as doutrinas de pastores velhos, decrépitos e absolutistas.
Falo e escrevo de Abril pelo que me foi transmitido, pelas memórias de meus pais, familiares e amigos mais velhos da geração que nos deu luz de esperança rumo a um futuro diferente.
Nasci livre e cresci nos anos conturbados da construção democrática de uma pátria que tentava sair da cauda do pelotão e alicerçar valores, práticas e caminhos dotados de democraticidade.
Cresci com as dores de Abril mas com a convicção de que eu filho da eterna classe média remediada, tinha tanto direito à educação, cultura e expectativa de futuro como qualquer um.
Sim eu sou da geração livre, filha da geracao amordaçada, neta da geração que no silêncio da noite escura já conspirava para que o ano fosse todo Abril florido em cravos vivos de liberdade.
Sim... eu devo homenagear aqueles que me pariram a liberdade e me entregaram de mão beijada para eu saber que sou como qualquer um...
Sim... eu devo escrever, falar e sentir Abril como se estivesse a sair de Santarém na coluna de Salgueiro Maia rumo à capital do império onde tudo ruiria com meia dúzia de tiros e sem um banho de sangue medonho.
Sim... eu devo respeitar a herança de quem com cravos nas espingardas me deu a maturidade de ter amigos de esquerda e de direita, brancos ou multiculores, com visões e formas de encarar a vida com sonhos diferentes dos meus.
Sim... Abril deu me novos mundos e realidades multidimensionais que me permitem gritar educadamente ( mas convictamente) que o fascismo, o obscurantismo e o regresso a velhos dogmas não ocorrerá.
Porque também nós os filhos da liberdade não permitiremos, apesar dos tempos esburacados e injustos, que o medo e o ódio fomentados pelos demagogos transformem o Abril ( ainda em muito por cumprir) do nosso contentamento num qualquer mês de Inverno amordaçado onde as nuvens e a chuva nos restringam o direito de escolher e de sermos afinal como "qualquer um".
Fomos ao Super Bock Arena ver a excelente Ana Moura .
Entre a essência do fado, intercalada com kizombas e sembas,em suma a mescla da world music que nos une a todos.
Um espectáculo com a presença especial do magnífico Paulo Flores e com o toque de Midas também de músicos e bailarinos de eleição.
Um tributo de 8500 pessoas a uma voz única no panorama musical made in tugolândia.
Lembro me como se fosse ontem que a 24 estava a jantar entre amigos na Ribeira do Porto, saboreando uma vitela no tacho a derreter languidamente na boca e um vinho do Douro que adornou mais uma noite na Adega de São Nicolau.
Saímos por volta das 23h30 e tive ainda tempo para um cigarro contemplativo numa noite amena, em que a vista, como usual, era (é) um postal nocturno convidativo em que o Rio guarda e delimita as margens entre Porto e Gaia.
Recordo-me da madrugada em que o horror emergiu e ficar horas colado com o meu Pai ao telefone entre o desespero e impotência e a raiva incontida que nos permitiu matar Putin virtualmente (mas de forma convicta) vezes sem conta com requintes de malvadez pérfida e toques extremos de um filme de terror de quinta categoria.
O desespero agudizante dos primeiros dias deu lugar a uma esperança sem aparente lógica racional de que os bravos Ucranianos iriam prevalecer estóicos contra a máquina de guerra do czar sem trono e saudosista da antiga Rússia imperial em que o direito seria divino de obliterar povos e esmagar a resistência de quem pensa livre e vive em democracia imperfeita mas alicerçada nos valores básicos dos direitos comuns que unem os indivíduos.
Deixei de ter ilusões e lirismos: Somos todos filhos do sangue destes tempos angustiantes. No entanto sempre a esperança de que, como em outros tempos do tempo histórico e tangível, a bravura (justiça) e determinação (razão) irá derrotar o cinismo atroz da desinformação e do ódio puro e duro.
Sempre ouvi dizer que não se combate um bruto ou um rufia com a razão do equilíbrio (infelizmente). Por vezes só a espada pode deter a espada, só o martelo pode responder ao martelo.
Assim aconteceu (acontece).
Desesperei, revoltei-me, destilei textos de fúria durida , (re)tweets programados em grupo ou na pulsão individual, inundei tudo o que destilasse Putin e sua máquina de terror atroz. Escrevi e (re)escrevi, debati, fui insultado por guardas pretorianas extremistas e mansas no espirito seguidista de matilhas antigas com pastores a soldo que prestam vassalagem a um decrépito mundo que já não tem lugar nos tempos do presente (aprendi que nas redes sociais existem fanáticos pagos e não pagos...).
Um ano após o inicio de tempos atípicos, a Ucrânia resiste e insiste no caminho da luta de um direito de nascença de qualquer nação: Ser livre de grilhetas e mordaça.
Como devem intuir não sou apologista da guerra e da morte. Nada apagará os mortos, os estropiados e os órfãos de ambos os lados da barricada.
Nada apagará duas gerações de povos varridas do mapa.
Nada apagará o ano mais angustiante das nossas vidas.
Nada apagará o dilúvio obsceno de morte que Putin e seus sequazes lançaram ao mundo (eles e só eles esqueçam lá o resto...)
No entanto...
Um ano depois a Ucrânia resiste (e insiste).
Afinal o Czar ia nu...
Afinal Kiev não caiu em setenta e duas horas...
Afinal o "presidente-palhaço" não fugiu...
Contudo...
Nada está ganho
Nada está perdido
Tudo está em aberto...
Ressistiremos à fúria dos brutos, se possível com negociações, se possível com compromisso.
Mas lutaremos... ao lado dos Ucranianos com a pena e a caneta, com os punhos e com as armas, com a resiliência de quem não se dobra perante o mal.
(Cada um luta como sabe como pode)
Ganharemos (muitos)... Perderão (alguns tantos)...
Nós os filhos do sangue destes tempos malditos.
Nós os proscritos dum tempo sem lei
Nós os que não calamos (e lutamos)