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sexta-feira, julho 29, 2011

Acordar Tarde

tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte


procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer


irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia

Al Berto, Horto de Incêndio   

domingo, outubro 17, 2010

Soneto (quase) Inédito

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.


Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
 
Tão actual em 1969, como hoje...

E depois (ainda) dizem que a tradição já não é o que era…

quarta-feira, setembro 01, 2010

Poema Colectivo

um beijo
no centro
do coração
e que a voz
se erga
pulando a cerca da noite
em balidos de veludo
despertando sobre a areia
no aroma da aurora

um beijo
um beijo ao lado do coração
para depois o agarrar
na noite perdida e achada
sem nunca a voz derrubar

da boca nasce então um grito
nas mãos
cravos vermelhos
no coração
amor novo
nascido na madrugada
que aqui não chegou

Poema Completo Aqui

sexta-feira, abril 02, 2010

Simplesmente Saudade...

Saudade Só



Hoje vieste ver-me 
a troco de um pensamento 
que não se esconde 
na ressonância adormecida 
num olimpo. 

Vieste e trazias 
um ramo de palavras cintilantes, 
flores que pacientemente 
escorrem entre o alfa e o omega 
como um perfume de tempo. 

Hoje a tua visita 
apareceu à janela do tempo 
que a paisagem do nosso olhar 
incendeia num vespertino silêncio. 

De corpo cansado 
das pedras que colhi 
na paisagem transparente erguida 
adormeci na pausa 
tão perfeitamente adormecida 
do nosso paraíso 
que tarda a acontecer. 

Hoje vieste ver-me 
E, sem ter de tocar 
no mármore da paixão, 
contigo fui devagar 
ver o tempo passado para nele escrever 
o tempo do amor 
voz da nossa idade 
que nossos olhos cantam 
no canto do nosso olhar. 


Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

sexta-feira, dezembro 04, 2009

segunda-feira, novembro 30, 2009

Poesia Amadora


Conhecer-te pensamentos,
descobrir-te dores,
compreender-te profundezas.
Desvendar-te inseguranças,
vagar-te magias.
Cuidar-te incertezas.
Partilhar-te destinos,
libertar-te amarras.
Vangloriar-te triunfos,
acolher-te temores.
Velar-te anoiteceres,
perpertuar-te amanheceres.
Nascer-te desejos,
fartar-te prazeres,
saborear-te néctares...
Acolher-te mansidão.
Iluminar-te veredas,
percorrer-te devaneios,
prover-te encantos.
Encantar-te sorrisos
Aninhar-te certezas.
Fazer-te viveres.
Merecer-te ,
viver-te ,
Infinitivamente,
Amar-te!

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Ser ou Não Ser

Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhose se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Apodreceu o sol dentro de nós apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos há silêncios de morte em cada voz.
Ofélia-Pátria jaz branca de amor.Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando entre ser e não ser firmeza indecisão.
Até quando? Até quando?Já de esperar se desespera.
E o tempo foge e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso.
E o tempo é hoje.Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão e Elsenor se tornou a capital da dorser
é roubar à dor as próprias armase com elas vencer estes fantasmas que andam à solta em Elsenor.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Pessoa Dixit

Gosto do céu porque não creio que ele seja infinito.
Que pode ter comigo o que não começa nem acaba?
Não creio no infinito, não creio na eternidade.
Creio que o espaço começa aqui e aqui acaba
E que longe e atrás d’isso há absolutamente nada.
Creio que o tempo tem um princípio e terá um fim,
E que antes e depois d’isso não havia tempo.
Porque há de ser isto falso?
Falso é falar do infinito
Como se soubéssemos o que só ver os podemos entender.
Não: tudo é uma quantidade de cousas.
Tudo é definido, tudo é limitado, tudo é cousas.

domingo, novembro 30, 2008

O'Neill


Entre pedras, palavras...
Que estupidez o sangue nas calçadas!
O sangue fez-se para ter dois olhos,
um lépido pé, um braço agente,
uma industriosa mão tocante.
Que estupidez o sangue entre as palavras!
O sangue fez-se para outras flores
menos fáceis de dizer que estas
agora derramadas.

terça-feira, novembro 18, 2008

Poesia Tuga

Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

terça-feira, novembro 11, 2008

Poesia da Natália

Do sentimento trágico da vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber

o que só então se sabe
e não se pode contar.

terça-feira, novembro 04, 2008

Poesia Tuga


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

sábado, outubro 25, 2008

Poesia Solta

MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO
Mas não puxei atrás a culatra,não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minhadesfez-me logo à chegada.
Não houve pois cercos, balas que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,com grandes copos, grandes mãos aterradas.
Viram-no mijar à noite nas tábuas ou nas poucas ervas meio rapadas
Olhar os morros, como se entendesse o seu torpor de terra plácida.
Folheando uns papéis que sobraram lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha passou-me para os ossos e não sai.
FERNANDO ASSIS PACHECO

segunda-feira, julho 28, 2008

Natália Dixit

SOBE O PANO
Onde se solta estrangulado gritoHumaniza-se a vida e sobe o pano.
Chegam aparições dóceis ao ritoVindas do fosso mais fundo do humano.
Ilumina-se a cena e é soberano,no palco, o real oculto no conflito.
É tragédia? É comédia?
É, por engano,
O sequestro de um deus num barro aflito?
É o teatro: a magia que descobre
O rosto que a cara do homem cobre,
E reflectidos no teu espelho - o actor -
Os teus fantasmas levam-te para onde
O tempo puro que te corresponde
Entre horas ardidas está em flor.