quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Smile your in candid camera


Há dois dias atrás, entre um cigarro banal e um café fumegante, folheava o Jornal de Noticias e meu olhar ávido - como sempre - de noticias mundanas parou num artigo sobre a videovigilância na Ribeira do Porto. Todos os interessados (e os desinteressados também acrescento eu...) em tom harmonioso de paz e lógica discursiva de vitória como se um real objectivo de relevo tivesse sido atingido. Infelizmente este processo de videovigilância, visando prevenir roubos e agressões, vem tarde, muito tarde. Após anos de polémicas, assaltos, perseguição camarária e policial e desunião entre os empresários da zona, esta zona histórica luta para sobreviver, numa realidade e cenário competitivo, na qual perdeu tempo, público e capacidade de reajustamento a novas necessidades dos clientes. Toda a gente sabe que a noite do Porto no sue global, reflecte também a crise profunda a nível económico que Portugal atravessa. Mais : espelha também o espirito menor que não nos permite por vezes andar em frente, a mentira fácil e a inveja fútil; corporizada na concorrência desleal e desenfreada na qual a lógica parece ser uma corrida colectiva rumo ao suicidio empresarial. Na noite Portuense existem trajectos, não existem projectos. Especificamente, a noite da Ribeira com seu ritmo e cadência única na Europa, já morreu há muito; morta e enterrada resta agora traçar novos rumos e aceitar novos desafios, mas não será através de cantos de vitória sem conteúdo que se atingem metas ou e cumprem projectos a longo prazo. Eu, sem laivos de arrogância, afirmo que eu sei e senti na pele a injustiça das perseguiçoes policiais e camarárias, os roubos a clientes; as agressões, as tentativas de extorção a clientes e empresários, a pressão para ceder cada vez mais ao abismo do lado negro e podre da noite Ribeirinha. Sinceramente cansei-me de uma luta diária desgastante e por vezes humilhante, no simulacro hipócrita de tentar a agradar a gregos e a troianos, para tentar continuar em frente e salvar o que já não havia para ser salvo. Como eu, muitos "crentes" com valor foram se afastando gradualmente desencantados com a falta de apoios, com a falta de meios e também desgastados pelas pressões de todos aqueles canibais que - nos tempos dourados e nos tempos sombrios - estiveram sempre na primeira linha para recolher os louros nas suas mais variadas formas, do trabalho que não era o seu. Afinal estamos num pais onde o canibalismo fisico e moral não é punível por lei. Cá por mim, optei pela luz do dia, apesar de através de uma produção regular de eventos, respirar ainda o cheiro doce e selvagem da mãe noite. Quanto à apregoada videovigilância : Não dou mais do que umas curtas horas de vida às camaras; certamente danificadas pela imagem feia e turva dos canibais que circulam nas ruelas na zona que outrora foi a minha Ribeira...

Sem comentários: